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Tag Archives: Jan Steen

Amor, Amores, no Cancioneiro Popular Português

05 Quinta-feira Fev 2015

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

≈ 4 comentários

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Anna LISIEWSKA, Cancioneiro Popular Português, Jan Steen, Quadras Populares

Jan Steen - Auto-retrato como alaudistaAo Cancioneiro Popular Português fui buscar algumas quadras à volta do amor. Contam elas alegrias e desgostos, falam de amores ligeiros ou eternos, saudades e promessas vãs. Tudo naquela mescla de ingenuidade e sabedoria a que o verso de sete sílabas e a quadra chamada de pé-quebrado (rima abcb) transmite um especial encanto.

Antes dos assuntos sérios do amor, e porque tudo isto é para cantar, façamos um breve intróito à conta da inspiração:

 

Eu sei fabricar cantigas

Mesmo com o pó do chão:

Inda bem não digo uma,

Já vem outra de roldão…

 

E para o poeta que também é tocador, algumas apreciações:

 

O tocador da viola

É bonito, toca bem:

Amigo das raparigas,

É o pior que ele tem!

 

Mas nem sempre o tocador tem o coração volúvel, se não, leiam:

 

Eu dedilho na guitarra

As cordas do coração.

Pela guitarra é que eu tive

A posse da tua mão.

 

E se mulher não há…

 

Guitarra, minha guitarra,

Só tu és a minha amiga:

Ficas comigo na cama,

És a minha rapariga.

LISIEWSKA, Anna Rosina - Alegoria do ouvir 600pxFeito o intróito, passemos ao sério:

 

O amor quando se encontra

Causa penas e dá gosto:

Sobressalta o coração,

Sobem as cores ao rosto.

 

Isto sabido, vamos aos variados estados amorosos:

 

A dúvida:

 

Tenho um dedo que adivinha,

Um dedo que me diz tudo;

Perguntei-lhe se me amavas,

Mas o ladrão ficou mudo…

 

A certeza:

 

Não te amo por um dia

Nem só por uma semana;

Amo-te por toda a vida,

Se o coração não me engana.

 

O estado apaixonado:

 

Mal sabes quanto me alegro

Quando te vejo defronte:

É como quem morre à sede

E põe a boca na fonte!

 

O meu coração do teu

É bem ruim de apartar:

É como a alma do corpo

Quando Deus a vem buscar.

 

Ai, muito custa uma ausência

A quem na sabe sentir!

Mas mais custa uma presença

De ver e não possuir!

 

Dormindo sonho contigo,

De dia contigo estou;

Tua imagem vem comigo

P’ra todo o lado onde vou.

 

Esta noite sonhei eu

Cuidando que era já tua;

Tive tantas alegrias

Como pedras há na rua!

 

O amor e o seu fim:

 

Lá vai o rio correndo

Oh, quem mo dera agarrar!

O amor é como o rio:

Vai-se e não torna a voltar.

 

Ainda que o lume se apague

Na cinza fica o calor;

Ainda que o amor se ausente

No coração fica a dor.

 

Aquele primeiro amor

Que no mundo tem a gente

Não sei que doçura tem

Que lembra constantemente

 

(Var) Que alembra eternamente.

 

Outras variadas formas de viver o amor onde entre peitos e penas surge alguma variedade expressiva:

 

Ó minha bela menina,

Ponha o seu amor só num;

Não traga muitos à trela,

Que pode ficar sem nenhum.

 

 

Ando cansado da vida,

Ando doente do peito;

Dá-me xarope de beijos,

Dá-me chá de amor-perfeito.

 

Esta noite me obrigaram

A dormir c’uma morena;

A pena maior que eu tive:

Ser a noite tão pequena.

 

A pena com que te escrevo

Não é de nenhum pavão,

Criada foi em meu peito,

Junto do meu coração.

 

Despeço-me com vontade de ser o passarinho da quadra final:

 

Que passarinho é aquele,

Que no ar faz ameaços?

Com o bico pede beijos,

Com as asas pede abraços!

 

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No final do ano com poesia de Su Tung P’o

30 Segunda-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Jan Steen, Su Tung P'o

Garden Party 1677 A1Desconheço as origens da mística que envolve a chegada do Ano Novo. A excitação e entusiasmo que se apodera de nós acaba por ser o escape para a esperança que não morre por mais que a realidade a tente extinguir. Como há dias dizia a pessoa amiga: esperança tenho sempre, o tamanho é que varia.

Bom, mas voltando ao que no blog nos ocupa: a poesia, encontro num poeta chinês, velho de quase mil anos, Su Tung P’o (1036-1101), interrogações que nunca me tinha colocado:

 

Quando um ano partiu, como o voltarás a encontrar?

Pergunto-me para onde terá ido, este ano que acabou?

 

Na simplicidade das perguntas um mundo de respostas. A cada um as suas.

Leaving the Tavern A1Deixo-vos, se à meditação o final do ano vos convidar, três poemas de Su Tung P’o, em versões da minha responsabilidade a partir da tradução inglesa de Kenneth Rexroth.

O último dia do ano

O ano a terminar

é como cobra arrastando-se no chão

Dentro em pouco já não o verás pois quase desapareceu.

Foi-se embora e com ele as preocupações.

Seria pior se o pudesses agarrar pela cauda.

Porquê tentar se daí não virá qualquer bem.

As crianças estão despertas, não conseguem adormecer.

Ficam levantadas toda a noite, rindo e brincando.

Os galos não cantam anunciando o amanhecer.

O relógio não ressoa nos gongos.

Toda a gente está a pé enquanto as velas ardem devagar,

desconsoladas e em grupo olham as estrelas lá fora.

Espero que o próximo ano seja melhor que este.

Mas sei que será exactamente o mesmo:

velhos erros e oportunidades perdidas.

Talvez na próxima noite de fim-de-ano conclua que foi melhor.

Deveria.

Sou ainda novo e cheio de confiança.

Tavern Garden 1660 A1

O fim do ano

Quando um amigo inicia uma viagem de milhares de quilómetros

e está prestes a partir, adia, adia, uma e outra vez.

Quando os homens partem, sentem que podem não voltar a encontrar-se.

Quando um ano partiu, como o voltarás a encontrar?

Pergunto-me para onde terá ido, este ano que acabou?

Certamente algum lugar bem longe do horizonte.

Partiu como um rio que corre para leste,

e desagua no mar sem esperança de retorno.

Os meus vizinhos da esquerda bebem vinho quente.

Os da direita grelham um porco gordo.

Terão um dia de alegria

em recompensa de um ano de problemas.

Deixamos o ano que acaba partir sem pena.

Deixaremos tão sem preocupação os anos chegar?

Tudo passa, tudo parte, sempre sem um olhar atrás.

E nós cada vez mais velhos e mais fracos.

The Bean Feast 1668 A1

A passagem do ano

Cai a noite. As nuvens dispersam-se e desaparecem.

O céu está puro e frio.

Silenciosamente o Rio do Paraíso transforma-se em Abóbada de Jade.

Se esta noite não gozar a vida em pleno,

Fá-lo-ei no próximo mês, no próximo ano? Quem sabe quando será!

Steen_Jan-The_Effects_of_Intemperance A1

Acompanham o artigo pinturas de Jan Steen (1626-1679) dando conta de festas de arromba, apropriadas para fechar o ano velho.

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Lao Tse: Tao Te King, Cap. 33 e 44

29 Terça-feira Jan 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Jan Steen, Lao Tse, Tao Te King

Steen_Jan-Celebrating_the_BirthHoje, mais ou menos toda a gente ouviu falar do livro Tao Te King — Livro do Caminho e do Bom Caminho de Lao Tse. É um livro para a vida. O subtítulo na versão portuguesa dá dele a medida exacta: Livro do Caminho e do Bom Caminho. Meditá-lo a espaços ajuda a recentrar a nossa atenção e opções de vida no que é essencial e vale a pena para nos sentirmos de bem connosco e com o mundo.

Venho hoje com dois capítulos do livro na notável e belíssima versão de António Miguel de Campos a partir de fontes chinesas, onde a forma adoptada pelo tradutor ganha, por vezes, a altura da mais nobre poesia.

“Quem morre sem desaparecer vive uma longa vida.“

Cap. 33

Quem conhece os outros é inteligente.
Quem se conhece a si próprio é esclarecido.

Quem vence os outros é forte.
Quem se vence a si próprio é poderoso.

Quem se contenta om o que tem é rico.
Quem avança com determinação tem orça de vontade.

Quem não abandona o seu lugar perdura.
Quem morre sem desaparecer vive uma longa vida.

Cap.44

A reputação ou a vida, o que nos é mais querido?
A vida ou o dinheiro, o que é mais importante?
Ganhar ou perder, o que é mais doloroso?

A verdade é que
gostar demais leva a grandes despesas.
Acumular demais leva a consideráveis perdas.

Sabendo quanto nos basta, evitam-se desgraças.
Sabendo parar, não se correm perigos
e poderemos assim para sempre perdurar.

Edição Relógio D’Água, Lisboa 2010

Ilustra o artigo uma pintura de Jan Steen (1625-1679), celebrando um nascimento.

É uma daquelas pinturas de género em que alguns holandeses foram mestres, e onde a vida corre na aceitação da sua condição.

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