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Gustav Adolph Hennig - Rapariga a lerCom a Páscoa como pretexto, traduzo um poema do argentino Mario Trejo (1926-2012), também autor do arqui-famoso poema Pájaros Perdidos, famoso por obra da música que Astor Piazzolla (1921-1992) para ele compôs.

Ainda que a fé católica seja toda ela vivida numa prática ritual que conforta os crentes, nomear Deus fora do ritual é contudo uma parte importante da transformação do inexplicável em explicado.

 

A propósito da palavra Deus

 

Dizer

Nomear

Pedir

Temer

Olhar

Tocar

Negar

Gritar

 

Creio em todo este caos

Creio em toda esta loucura

Crimes e torturas

Que um dia terminarão

 

Creio em tanta injustiça

E na lei da selva

Viver é uma guerra

Que um dia terminará

 

Creio apesar de tudo

Que no meio do incêndio

Quando tudo está ardendo

Algo há

 

Beleza dos loucos

Crepúsculos em chamas

Infância destroçada

Algo há

 

Labirintos raivosos

Espelhos sem saída

Amor cego

Algo há

 

Roleta de esperanças

Recordações como setas

Domingo interminável

Algo há

 

Beijar a primeira vez

Lutar contra o esquecimento

Inúteis reencontros

Algo há

 

Balas pela boca

O sol negro de pena

Escolher o esquecimento

Algo há

 

Loucura do planeta

Razão do universo

Que ignora o bem e o mal

 

Tambores na noite

Repetem a palavra

Obsessiva como o mar

 

Saber que não há resposta

E dizer apesar de tudo

Algo há Algo há

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Gustav Adolph Hennig (1797-1869).