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Em rescaldo de Carnaval vamos à poesia que dança na estonteante cadência rítmica de Rondel do Alentejo escrito por Almada Negreiros (1893-1970) em 1913.
Rondel do Alentejo
Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.
Meia-noite
do Segredo
no penedo
duma noite
de luar.
Olhos caros
de Morgada
enfeitada
com preparos
de luar.
Rompem fogo
pandeiretas
morenitas,
bailam tetas,
e bonitas,
bailam chitas
e jaquetas,
são as fitas
desafogo
de luar.
Voa o xaile
andorinha
pelo baile,
e a vida
doentinha
e a ermida
ao luar.
Laçarote
escarlate
de cocote
alegria
de Maria
la-ri-rate
em folia
de luar.
Giram pés
giram passos
girassóis
e os bonés,
e os braços
destes dois
giram laços
ao luar.
O colete
desta Virgem
endoidece
como o S
do foguete
em vertigem
de luar.
Em minarete
mate
bate
leve
verde neve
minuete
de luar.
Transcrito de Almada Negreiros, Obras Completas, Vol.I-Poesia, 2ªEdição, INCM, Lisboa, 1990.
O poema foi publicado em 1922 no nº2 da revista Contemporanea, acompanhado do desenho de Almada que abre o artigo.