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Em mais um poema do Al-Andalus numa versão de David Mourão-Ferreira, lemos o relato da antecipação e gozo de uma noite de amor.
No contraste entre a escuridão da noite e a luz que o amor traz corre o poema em belíssimas imagens, quais estas:
fixei-a nos olhos
para que não deixasse de cumprir
a promessa de visitar-me como um sol,
…
E veio então, como a claridade da aurora
a abrir caminho por entre as trevas.
…
E com ela passei a noite, enquanto a noite
mais ao longe dormia,
…
até que veio separar-nos
o estandarte da madrugada.
Entrego-vos ao poema:
Poema
Quando o sol declinava,
já quase a desaparecer,
fixei-a nos olhos
para que não deixasse de cumprir
a promessa de visitar-me como um sol,
no momento em que a lua por entre as trevas,
inicia a viagem nocturna.
E veio então, como a claridade da aurora
a abrir caminho por entre as trevas.
Perfumavam-se os horizontes à minha volta,
anunciando a sua chegada
como o aroma anuncia a flor.
Recorri com beijos a marca dos seus passos
como recorre o leitor as letras de uma linha.
E com ela passei a noite, enquanto a noite
mais ao longe dormia,
e o amor despertava
por entre os ramos do seu tronco,
a duna das suas ancas,
a lua da sua face…
E umas vezes a abraçava
e outras vezes a beijava,
até que veio separar-nos
o estandarte da madrugada.
Tradução de David Mourão-Ferreira in Vozes da Poesia Europeia – I, Colóquio Letras nº163, Lisboa Janeiro-Abril de 2003.
Tradução indirecta feita a partir da histórica versão castelhana de Emilio Garcia Gomez.
Do poeta, Ibn Safar Al-Marînî (séc. XII), saberei dizer-vos que é provavelmente o poeta identificado no volume IV da Biblioteca do Al-Andalus pelo nome IBN AL-MARINI, ABU L-HASAN: Abu l-Hasan `Ali b. al-Marini nascido em Almería no século XII, e mais não sei. A falta de normalização em português da escrita de nomes árabes cria estas dificuldades.