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Miniatura persa 09

Em mais um poema do Al-Andalus numa versão de David Mourão-Ferreira, lemos o relato da antecipação e gozo de uma noite de amor.

No contraste entre a escuridão da noite e a luz que o amor traz corre o poema em belíssimas imagens, quais estas:

fixei-a nos olhos

para que não deixasse de cumprir

a promessa de visitar-me como um sol,

E veio então, como a claridade da aurora

a abrir caminho por entre as trevas.

E com ela passei a noite, enquanto a noite

mais ao longe dormia,

até que veio separar-nos

o estandarte da madrugada.

 

Entrego-vos ao poema:

 

Poema

 

Quando o sol declinava,

já quase a desaparecer,

fixei-a nos olhos

para que não deixasse de cumprir

a promessa de visitar-me como um sol,

no momento em que a lua por entre as trevas,

inicia a viagem nocturna.

 

E veio então, como a claridade da aurora

a abrir caminho por entre as trevas.

Perfumavam-se os horizontes à minha volta,

anunciando a sua chegada

como o aroma anuncia a flor.

 

Recorri com beijos a marca dos seus passos

como recorre o leitor as letras de uma linha.

 

E com ela passei a noite, enquanto a noite

mais ao longe dormia,

e o amor despertava

por entre os ramos do seu tronco,

a duna das suas ancas,

a lua da sua face…

 

E umas vezes a abraçava

e outras vezes a beijava,

até que veio separar-nos

o estandarte da madrugada.

 

Tradução de David Mourão-Ferreira in Vozes da Poesia Europeia – I, Colóquio Letras nº163, Lisboa Janeiro-Abril de 2003.

 

Tradução indirecta feita a partir da histórica versão castelhana de Emilio Garcia Gomez.

 

Do poeta, Ibn Safar Al-Marînî (séc. XII), saberei dizer-vos que é provavelmente o poeta identificado no volume IV da Biblioteca do Al-Andalus pelo nome IBN AL-MARINI, ABU L-HASAN: Abu l-Hasan `Ali b. al-Marini nascido em Almería no século XII, e mais não sei. A falta de normalização em português da escrita de nomes árabes cria estas dificuldades.