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Talvez alguns leitores estejam lembrados do poema Se, tradução do poema de Rudyard Kipling (1865-1936), If, e foi um must estampado num cartaz que encheu paredes de quartos juvenis por finais dos anos 60 do século XX. É uma paródia a esse poema que Alexandre O’Neill (1924-1986) faz neste seu poema, Se…, que a seguir transcrevo.
SE…
Se é possível conservar a juventude
Respirando abraçado a um marco de correio;
Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
Deixando-a em estado grave;
Se ao descer do avião a Duquesa do Quente
Pôs marfim a sorrir;
Se Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco;
Se na América um jovem de cem anos
Veio de longe ver o Presidente
A cavalo na mãe;
Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
E a oferece aos hospitais do seu país;
Se o engenheiro sempre não era engenheiro
E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;
Se reentrante, protuberante, perturbante,
Lola domina ainda os portugueses;
Se o Jorge (o “ponto” do Jorge!) tentou beber naquela noite
O presunto de Chaves por uma palhinha
E o Eduardo não lhe ficou atrás
Ao sair com a lagosta pela trela;
Se “ninguém me ama porque tenho nau hálito
E reviro os olhos como uma parva”;
Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa
Cantar com o Alberto…
…acaso o nosso destino,tac!, vai mudar?
Publicado pela primeira vez em No Reino da Dinamarca, 1958. Transcrito de Poesias Completas 1951/1986, INCM, 3ªedição revista e aumentada, Braga, 10 de Junho, Dia de Portugal, 1980.
A imagem de abertura respeita a uma pintura de Salvador Dalí (1904-1989).
Roseli Pedroso said:
Não conhecia. Muito bom.
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