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Cansado pensamento, em paz me deixa / Respirar um momento sossegado
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Não perturbes meu sono desejado / Mostrando-me um rival afortunado
A fadiga mental que o desgosto de amor provoca, tem neste soneto do final do século XVIII o recorte poético que quase a torna apetecida, tal a suavidade do verso para dela dar conta, a que se acrescenta o pedido de um sono sem sonhos com o rival que o substituiu.
Quando o frouxo Morfeu meus olhos fecha / Não perturbes meu sono desejado / Mostrando-me um rival afortunado
O soneto foi escrito por João Baptista de Lara (1764-1828), Albano Ulisiponence na Academia de Belas Letras de Lisboa, também conhecida por Nova Arcádia onde pontificou Bocage, e merece saltar do pó do esquecimento. Possui o número 26 no Almanak das Musas Parte I, publicado em 1793. Deixo-vos com o soneto em ortografia modernizada.
Soneto
Cansado pensamento, em paz me deixa
Respirar um momento sossegado
Assaz é tempo enfim que um desgraçado
Ponha termo ao seu pranto, à sua queixa.
Quando o frouxo Morfeu meus olhos fecha
Não perturbes meu sono desejado
Mostrando-me um rival afortunado
Que as armas contra mim, cruel desfecha.
Não sejas tu também meu inimigo,
Se é possível, permite que eu ignore
Ou me esqueça uma vez do meu perigo.
Mas aí de mim! Por mais que ao céu implore
O céu me nega em ti um doce abrigo
E faz que eu sem cessar suspire e chore.
João Baptista de Lara
A imagem que abre o artigo mostra uma pintura do alemão Karl Schmidt-Rottluf (1884-1976).