Em momentos de desenfado dá-me para a brejeirice. Fujam os leitores para quem a vida só vale se for sempre a sério.
Hoje cá vem um soneto de Bocage (1765-1805) em forma de adivinha, ou uma adivinha em forma de soneto, como preferirem, e cuja solução se encontra na cabeça da mulher pintada por Picasso (1881-1973) mostrada enquanto se entrega a prazeres solitários.
Soneto XIII
É pau, e rei dos paus, não marmelleiro,
Bem que duas gamboas lhe lombrigo;
Dá leite, sem ser arvore de figo,
Da glande o fructo tem, sem ser sobreiro:
Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Occo, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando às vezes, qual vime, está comsigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:
Á roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nú;
Nem cedro, nem pau-sancto mais negreja!
Para carvalho ser falta-lhe um u;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar metta-o no cu.
Nota talvez desnecessária
O verso 12 só faz sentido se tivermos presente que no século XVIII tanto o som u como o som v se escreviam de igual forma com u.
Transcrevi este Soneto XIII da 1ª edição das Poesias Eroticas, Burlescas e Satyricas de M. M. de Barbosa du Bocage, respeitando integralmente a sua ortografia.
Trata-se de uma edição clandestina de 1854, feita em Lisboa, e datada de Bruxellas — MDCCCLXL, a qual é dos mais estimados exemplares da minha biblioteca.
Belíssimos! Instigantes… Abraços.
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Tenho um exemplar do ano de MDCCCLIII ( Poderei vender )
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