Falamos de abstração em pintura quando nos encontramos perante uma obra onde não é reconhecível qualquer objecto ou realidade física identificável.
Tendo a abstracção começado pelo não-figurativo com Kandinsky (1866-1944), (e o seu ensaio Ponto e Linha sobre o Plano é uma obra iluminante), Mondrian (1872-1944) desenvolveu a partir do valor das cores, a base para uma relação equilibrada enquanto indutora da emoção estética, nas obras do que chamou a Nova Plástica, em detrimento da harmonia, característica da pintura antiga ( veja-se Realidad Natural y Readidad Abstracta, Barral Editores, Barcelona 1973).
Quando passamos a Malevitch (1879-1935), é no domínio do sem-objecto absoluto que nos encontramos. A representação basta-se a si mesma, e apenas o jogo plástico de cores e formas transmite a emoção ao observador.
De entre os fundadores da abstracção em pintura: Kandinsky, Mondrian, Malevitch, para citar os mais famosos, foi este ultimo quem levou mais longe esta pintura do sem-objecto com O Quadrado Negro sobre fundo Branco em 1915, e Branco no Branco em 1918.
Entre estas duas obras encontramos um conjunto vasto de obras de cores vivas e contrastadas onde formas de uma geometria quase regular em rectângulos e outras figuras geométricas se justapõem, surgindo a vaguear no espaço da tela, e em que o que conta é o movimento das massas coloridas.
Surgem estas obras sem propósito outro que dar conta de uma manifestação pictural da natureza enquanto lugar do ser, da vida, deste “Nada” que o pintor liberta sobre a tela. Este acto criador “não é mimético, é um acto puro que agarra a excitação universal do mundo, o ritmo, lá, de onde desapareceram todas as representações figurativas de tempo e espaço e onde não subsiste senão a excitação e a acção que ela condiciona. Excitação sem finalidade.” Citei amplamente o especialista da vanguarda plástica russa, Jean-Claude Marcadé, sobretudo em L’Avant-Garde Russe, Flammarion, Paris, 1995.
O século XX, com as vanguardas que se sucederam, encarregou-se da normalização de toda esta conversa e hoje olhamos estas obras ou de per se ou em contexto histórico, sendo certo que a arte da pintura não voltou a ser a mesma depois destas escandalosas (à época) invenções.
Concluo com mais algumas destas obras picturais, enquanto tal, onde a luz não é aquela, ilusória, do sol, mas a do negro e do branco de onde emanam ou se reúnem todas as outras cores.
Todas as imagens são de obras de Malevitch do periodo Suprematista.