Etiquetas

,

Okada_Kenzo-To_Point 1962Talvez só estejamos maduros para a poesia após uma vasta vivência. A aprendizagem da vida pela experiência acaba por nos fazer saber separar o essencial do acessório, e aí, como necessidade do espirito humano, surge a poesia na sua contenção verbal a mostrar-nos o que do mundo vale a pena perceber.

São forma superior deste relato vivencial e reflexivo o Haiku japonês. Mesmo para os não conhecedores da língua japonesa, as aproximações a esta poesia feitas em línguas ocidentais lançam frequentemente faíscas de emoção.

De Matsuo Bashô (1644-1694), eis alguns Haiku em versões de Luísa Freire.

*

Que belo que é

não pensar ao ver um raio:

“A vida é fugaz”.

**

Aqui o silencio —

somente a voz da cigarra

penetra os rochedos.

***

Começo de outono;

quer o mar, quer as campinas,

tudo é um só verde.

****

Entrega ao Salgueiro

o tédio e todo o desejo

do teu coração.

*****

Esvai-se o som na noite;

sobe o perfume das flores —

um sino tocou.

******

Tudo o que me cerca

e encontra o meu olhar

é fresco e é novo.

*******

Varrendo o jardim,

a neve ficou esquecida

pela vassoura.

Poemas publicados em Imagens Orientais, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003.

Acompanha esta poesia uma imagem da pintura de Kenzo Okada (1902-1982).

Pesquisando no blog por Haiku, encontrará o leitor curioso outros poemas e também considerações sobre a técnica do Haiku.