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Beach at La Garoupe (first version) - 1955-16Neste verão que se esconde, e a espaço nos abrasa, regresso com a poesia da antiga Grécia, terra habituada ao sol, cujos poetas nos deixaram uma leitura do mundo, cruzada com o capricho de deuses e heróis numa explicação do incompreensível, de inexcedível beleza.

É de Alceu de Lesbos (sec VII a.C.), poeta e soldado de quem nos chegou pouca da muita poesia sua de que há noticia, esta reflexão sobre o Verão É a hora / em que as mulheres se tornam / mais fogosas e mais fracos / os homens —, onde de alguma forma retoma a reflexão de Hesíodo (séc VIII a.C.) em Trabalhos e Dias (versos 582-596) que há anos, pelo Outono transcrevi no blog.

Humedece de vinho a garganta, que o astro
já voltou. É penosa
a estação e tudo
esmorece com o calor. Entre
a folhagem, docemente
a cigarra canta… Floresce
o cardo. É a hora
em que as mulheres se tornam
mais fogosas e mais fracos
os homens, pois que Sírio
as cabeças abrasa e os joelhos.

A tradução é de Albano Martins e consta da Antologia da Poesia Grega Clássica, Edições Afrontamento, Porto, 2011.

Talvez algum erudito leitor nos saiba esclarecer quanto a semelhança entre estes fragmentos de Alceu e Hesíodo reflecte os processos de transmissão da poesia antiga até nós e traduz um conceito de originalidade autoral nos antípodas do que hoje prezamos.

Iconografia

Acompanham o artigo duas visões de Picasso da praia em La Garoupe, sul de França, em 1955.

Beach at La Garoupe (second version) - 1955-15