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Auto-retrato

Entre documento e memória se tem feito a evocação da poesia de Almada Negreiros (1893-1970) aqui no blog.

No momento em que a atenção mediática, e com ela a dos leitores, se volta para a obra do genial mestre, encurto caminho aos interessados em ler o que por aqui há.

Desde logo um documento sonoro histórico: a leitura pelo próprio do Manifesto Anti-Dantas, acrescentado da revelação dos pormenores em torno da sua criação e edição.

almada-negreiros – manifesto anti-dantas lido pelo poeta

Depois, uma pagina de memória pessoal onde a sua presença se cruza.

Mulher sentada

Entre Almada Negreiros e Bicesse – Memória de Carnaval

Encontra-se também a associação entre o mestre e o génio de Camões, no tom brincado que é às vezes o seu, onde nos conta a aventura de Camões e da poesia em Portugal no poema LUÍS, O POETA SALVA A NADO O POEMA.

Luis de CamõesHomenagem de Almada Negreiros a Camões

De cada vez que a vida me leva à estação do Metro do Saldanha, em Lisboa, decorada com obras e frases de Almada Negreiros, paro sempre a pensar numa frase, escrita na parede, e na sua justeza sobre o que fazemos com o tempo, a única coisa que na verdade, nesta vida nos pertence, a qual abre o texto poético, A invenção do Dia Claro, e pode ser lida aqui.

Pausa

Fragmento de A Invenção do Dia Claro

É de novo sobre o tempo e o que com ele fazemos, a reflexão entre o serio e o irónico onde um cheiro de Pessoa surge, que nos traz este Momento de Poesia, com que termino.

Momento de Poesia

Se me ponho a trabalhar
e escrevo ou desenho,
logo me sinto tão atrasado
no que devo à eternidade,
que começo a empurrar pra diante o tempo
e empurro-o, empurro-o à bruta
como empurra um atrasado,
até que cansado me julgo satisfeito;
e o efeito da fadiga
é muito igual à ilusão da satisfação!
Em troca, se vou passear por aí
sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo,
compreendo tão bem o que não me diz respeito,
sinto-me tão chefe do que é fora de mim,
dou conselhos tão bíblicos aos aflitos
de uma aflição que não é minha,
dou-me tão perfeitamente conta do que
se passa fora das minhas muralhas
como sou cego ao ler-me ao espelho,
que, sinceramente não sei qual
seja melhor,
se estar sozinho em casa a dar à manivela do mundo,
se ir por aí a ser o rei invisível de tudo o que não é meu.

Escrito em 14 de Dezembro de 1941.

A Sesta

As imagens que acompanham este artigo são variações digitais sobre a obra do Mestre.