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Sobre a foto de Toni Schneiders (1920-2006) com que abre o artigo, duas notas apenas. Por um lado, relevar o impacto da geometria captada na paisagem, gerando ao olhar de quem vê a emoção do abstracto, onde a linha da estrada define, no seu equilíbrio, a organização espacial no rectângulo da fotografia, deixando para segundo plano o detalhe da realidade fotografada; por outro, olhar a bifurcação, oferecendo uma escolha entre caminhos sem horizonte visível, qual metáfora para o que a vida nos desafia hoje: que caminho seguir quando o horizonte nos surge cortado de qualquer esperança?
É a pretexto desta foto de Toni Schneiders (1920-2006), fotógrafo alemão, que escolhi o poema de Robert Frost (1874-1963) – A estrada que não foi seguida.
O poema fala das escolhas no caminho da vida
Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: …
e de como a escolha, ainda que pareça provisória se torna definitiva:
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabia como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.
Com efeito, sabe-se tarde, não voltamos para trás. O caminho escolhido a cada decisão é o que nos leva a todas as outras. Percorrer dois caminhos em simultâneo é às vezes uma tentação com resultados que terminam quase sempre em escolhas devastadoras.
E como o poeta, escolhemos um caminho,
Eu segui pela menos viajada / E isso fez a diferença toda
e na hora do balanço fica apenas a dúvida: terá sido o melhor? Interrogação que carregamos connosco.
E basta de conversa, aí fica o poema, traduzido, e o original em inglês.
A estrada que não foi seguida
Duas estradas separavam-se num bosque amarelo,
Que pena não poder seguir por ambas
Numa só viagem: muito tempo fiquei
Mirando uma até onde enxergava,
Quando se perdia entre os arbustos;
Depois tomei a outra, igualmente bela
E que teria talvez maior apelo,
Pois era relvada e fora de uso;
Embora na verdade, o trânsito
As tivesse gasto quase o mesmo,
E nessa manhã nas duas houvesse
Folhas que os passos não enegreceram.
Oh, reservei a primeira para outro dia!
Mas sabia como caminhos sucedem a caminhos
E duvidava se alguma vez lá voltaria.
É com um suspiro que agora conto isto,
Tanto, tanto tempo já passado:
Duas estradas separavam-se num bosque e eu —
Eu segui pela menos viajada
E isso fez a diferença toda
Tradução do poeta José Alberto Oliveira, in Rosa do Mundo, 2001 poemas para o futuro.
The Road Not Taken
Two roads diverged Ina yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had wom them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever combo back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
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