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Com este soneto, Tomás de Iriarte (1750-1791) leva-nos, com o não dito pela fala da narradora, dos preliminares à consumação do acto sexual, evidenciando uma mestria absoluta na técnica de contrução do poema, fazendo-nos percorrer, ao acompanhar a narração, o conjunto das emoções, receios, preconceitos e entrega ao prazer, vividos pela protagonista. Apenas uma palavra aqui, uma exclamação acolá, uma reticência, e o ambiente está criado. De Mestre!
Señor don Juan, quedito, que me enfado:
besar la mano es mucho atrevimiento;
abrazarme… don Juan, no lo consiento.
Cosquillas… ay Juanito… ¿y el pecado?
Qué malos son los ombres… mas, cuidado,
que me parece, Juan, que pasos siento…
no es nadie…, despachemos un momento.
¡Ay, qué placer… tan dulce y regalado!
Jesús, qué loca soy, quién lo creyera
que con un hombre yo… siendo cristiana
mas… que… de puro gusto… ¡ay… alma mia!
Ay, qué vergüenza, vete… ¿aún tienes gana?
Pues quando tú lo pruebes otra vez…
pero, Juanito, ¿volverás mañana?
E agora a tradução portuguesa de José Paulo Paes:
Senhor D. João, quietinho, que me enfado:
beijar a mão é muito atrevimento;
abraçar-me… isso não, que me apoquento.
Cosquinhas… ai Joãozinho… e o pecado?
Como são maus os homens… mas cuidado
que me parece ouvir passos lá dentro…
não é ninguém… apressa o teu momento.
Ai que prazer… tão doce e regalado!
Jesus, sou uma louca, quem diria
que com um homem eu… sendo cristã
mas… que… de puro gozo… ai! vida minha!
Quanta vergonha… Vai-te… Queres mais?
O que tivestes não te satisfaz?
Oh meu Joãozinho, voltas amanhã?
Noticia bibliográfica
A tradução e o poema original encontram-se publicados em Poesia Erótica em tradução, com selecção, tradução, introdução e notas de José Paulo Paes, numa edição Companhia Das Letras, 1990.