Nesta quadra propícia a inocências deixo-vos com o passeio da Margarida que em tempos escrevi a propósito da cadela de estimação de uma minha vizinha.

O passeio da Margarida

Passeia pelo jardim,

segura a trela na mão

e num desvelo de ternura

chama:

– Margarida venha cá!

A margarida teimosa

foge para longe a correr

sabe ser ela o pretexto

do passeio acontecer.

 Com corridas, atrevida

põe a dona em corrupio

repetindo divertida:

– Margarida venha cá!

Brincando de cá para lá

chegam a casa cansadas

e repousam sossegadas

no conforto do sofá.

Com a dona adormecida

salta a janela a correr

e foge pelo jardim.

Acorda a dona assustada

e a Margarida tão querida,

não está!

Olha a dona pela janela

e que vê?

A margarida anda nua

na rua, não pode ser!

Deixou a capa lavrada

mais a cinta, que molhada

pingava sobre o tapete.

E assim desprevenida

é de súbito apanhada

a namorar o cachorro

do vizinho do direito,

cão sem qualquer preconceito

no que respeita a cadelas,

pois roça por todas elas

sem distinguir pedigree.

– Já para casa Margarida!

grita de longe bem alto.

A pobre larga num salto

aquele cachorro malvado

e regressa a soluçar

num choro tão desmedido

que a dona sente no peito

um grande arrependimento.

Volta então a ponderar

o efeito do amor

entre cachorros sem trela

ou com trela e sem pudor .

                                Carlos Mendonça Lopes