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SAUDADE DO TEU CORPO
Tenho saudades do teu corpo: ouviste
correr-te toda a carne e toda a alma
o meu desejo – como um anjo triste
que enlaça nuvens pela noite calma?…
Anda a saudade do teu corpo (sentes?…)
Sempre comigo: deita-se ao meu lado,
dizendo e redizendo que não mentes
quando me escreves: “vem, meu todo amado…”
É o teu corpo em sombra esta saudade…
Beijo-lhe as mãos, os pés, os seios-sombra:
a luz do seu olhar é escuridade…
Fecho os olhos ao sol p’ra estar contigo.
É de noite este corpo que me assombra…
Vês?! A saudade é um escultor antigo!
Pois é, ler poesia a horas mortas dá isto!
E a esta saudade na pele faz companhia o dourado liquido temperado com in the wee small hours na voz de Sinatra.
Noticia bibliográfica
O soneto é de António Patrício (1878-1930). Foi originalmente publicado em 1911 no nº10 da revista A Águia e recolhido na edição de poesia completa, Assírio & Alvim, 1980.