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Lendário é o nome do poeta, menos conhecida é a sua poesia, sendo pesquisa de alfarrabista procurar a sua obra.
Arquivo no blog dois sonetos de Bocage (1765-1805) sobre o amor físico:
Um, remate da paixão:
Mais doce é ver-te de meus ais vencida, / Dar-me em teus brandos olhos desmaiados / Morte, morte de amor, melhor que a vida!
A Anália
Se é doce no recente, ameno estio
Ver toucar-se a manhã de etéreas flores,
E, lambendo as areias os verdores,
Mole e queixoso deslizar-se o rio;
Se é doce no inocente desafio
Ouvirem-se os voláteis amadores,
Seus versos modulando e seus ardores
De entre os aromas de pomar sombrio;
Se é doce mares, céus, ver anilados
Pela quadra gentil, de Amor querida,
Que esperta os corações, floreia os prados,
Mais doce é ver-te de meus ais vencida,
Dar-me em teus brandos olhos desmaiados
Morte, morte de amor, melhor que a vida!
Outro, desta vez gozo imaginado:
Que pode contra Amor a tirania, / Se as delicias que a vista não consente, / Consegue a temerária fantasia?
Debalde um véu cioso, ó Nize, encobre
Intactas perfeições ao meu desejo;
Tudo o que escondes, tudo o que não vejo
A mente audaz e alígera descobre.
Por mais e mais que as sentinelas dobre
A sisuda Modéstia, o cauto Pejo,
Teus braços logro, teus encantos beijo,
Por milagre da ideia afouta e nobre.
Inda que prémio teu rigor me negue,
Do pensamento a indómita porfia
Ao mais doce prazer me deixa entregue.
Que pode contra Amor a tirania,
Se as delicias que a vista não consente,
Consegue a temerária fantasia?
Nota sobre a fotografia:
Desconheço o autor da foto que encima o artigo. Encontrei-a num desses blogs que arquivam fotografias ao gosto dos seus promotores, sem nenhuma indicação de autoria. É pena. A foto convida-nos a adivinhar a perfeição do rosto a partir do desenho da boca, encaminhando a imaginação pela harmonica curvatura da cabeça. Escolhi-a a pensar com o poeta: Debalde um véu cioso, ó Nize, encobre / Intactas perfeições ao meu desejo;
Se é verdade que nas coisas de sexo importam sobretudo os lugares onde entramos e renascemos de prazer, o rosto dá uma iluminação inefável a cada morte de amor, melhor que a vida!