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Integrada que está no quadro social português, a interrupção voluntária da gravidez, dificilmente nos apercebemos hoje, e apenas quem o viveu saberá, quais eram os caminhos para interromper uma gravidez não desejada.
O tema é raro na poesia portuguesa. No poema Romance regista-se com pudor, e num lirismo admirável, uma gravidez acidental e o aborto forçado pelas conveniências sociais.
Romance
Depois daquela noite os teus seios incharam;
as tuas ancas alargaram-se;
e os teus parente admiraram-se
e falaram, falaram…
Porque falaram duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural?
Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval…
Mas tudo terminou porque falaram.
Tu fraquejaste e tudo terminou.
– Os teus seios desincharam;
só a tristeza ficou.
Ficou a tristeza duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural…
– Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval…
Noticia bibliográfica:
O poema Romance é de Sidónio Muralha, poeta para mim menor, no que dele conheço, mas com algumas fulgurações, e foi publicado em 1942 no livro “Passagem de Nível”.