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Tag Archives: Tamara de Lempicka

Paixão que teima num soneto da Viscondessa de Balsemão

12 Sexta-feira Ago 2016

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Tamara de Lempicka, Viscondessa de Balsemão

Tamara de Lempicka - Mulher à guitarra (detalhe) 600pxAbro um parêntesis no sobressalto dos dias para trazer mais uma perspectiva sobre o amor, desta vez sobre a escravidão da paixão, aqui num relato da Viscondessa de Balsemão (1749-1816):

 

…
Só por ti vivo, só por ti respiro;
Sairá com a minha alma em pranto envolto,
Teu nome unido ao último suspiro.

 

 

 

A Viscondessa de Balsemão figura entre a legião de poetas pré-românticos cuja obra se encontra esquecida entre manuscritos inéditos e edições da época inacessíveis. Entre esta herança poética, serão muitos os poemas banais ou dignos do silêncio do esquecimento, mas entre eles surgem por vezes algumas pérolas, como o soneto que hoje transcrevo.
Nele se dá conta do absoluto da paixão amorosa, mesmo quando a relação se quebra:

 

 

Inda existe, cruel, inda em meu peito
Se nutre da paixão o fogo activo;
Inda contra o meu gosto por ti vivo,
Fazendo o sacrifício mais perfeito.
…

 

 

A seguir refere o soneto como ela se agarra à pele e não larga, fazendo o apaixonado rebolar-se no prazer da sua dor:

 

…
Inda te adoro, ainda te respeito
Vendo em ti de meus males o motivo,
Porém o coração de amor cativo,
No cativeiro vive satisfeito.
…

 

 

Mais à frente regista o poema como naquele vai-vem do querer e não querer se alimenta o fogo da paixão:

 

…
Se às vezes contra ti queixumes solto,
Do que fiz insensato então me admiro
E aos meus antigos sentimentos volto.
…

 

 

Percorridos que estão os caminhos que o(a) apaixonado(a) atravessa quando escravo(a) da paixão, resta a leitura integral do soneto:

 

 

Inda existe, cruel, inda em meu peito
Se nutre da paixão o fogo activo;
Inda contra o meu gosto por ti vivo,
Fazendo o sacrifício mais perfeito.

Inda te adoro, ainda te respeito
Vendo em ti de meus males o motivo,
Porém o coração de amor cativo,
No cativeiro vive satisfeito.

Se às vezes contra ti queixumes solto,
Do que fiz insensato então me admiro
E aos meus antigos sentimentos volto.

Só por ti vivo, só por ti respiro;
Sairá com a minha alma em pranto envolto,
Teu nome unido ao último suspiro.

(Misc. Poética. Jornal de poesias inéditas, p15)

 

 

Transcrito de Zenóbia Collares Moreira, O Lirismo Pré-Romântico da Viscondessa de Balsemão,  Edições Colibri, Lisboa, 2000.

 

 

 

Abre o artigo a imagem do detalhe de uma pintura de Tamara de Lempicka (1898-1980) – Mulher à guitarra.

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Noche de Ronda – o poema de Luís Alberto de Cuenca

15 Quinta-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Luís Alberto de Cuenca, Tamara de Lempicka

Lempicka_Tamara_de-Girl_with_GlovesNão temos em português uma expressão para a castelhana noche de ronda, que transmita aquele andar à deriva a ver o que dá. É de noite de engate que se trata, mas dito assim perde a elegância do castelhano. Tudo isto a propósito de um poema de Luís Alberto de Cuenca (1950), Noche de Ronda chamado e que me ocorreu depois de uma conversa recente.

Algo mais velho que eu, encontro frequentemente na poesia de Luís Alberto de Cuenca afinidades onde uma experiência de vida geracional se cruza com o gosto pela erudição do especialista na antiguidade clássica, e o todo perfumado de uma ironia irresistível e tantas vezes amarga.

Este Noche de Ronda dá então conta de um desses encontros de ocasião em que o desejo de sexo faz deitar para trás as veleidades intelectuais que o convivo aprecia.

Aí o têm, o poema. Primeiro em tradução minha, depois o original castelhano.

Noite de Ronda

Noutro tempo terias gasto a noite
a falar-lhe de livros e de velhos filmes.
Mas já estás velho. Agora sabes que a elas
as aborrece os tipos cheios de nomes próprios,
que o teu bacharelato as deixa indiferentes.
De modo que as deixas tomar a iniciativa,
desligas e finges que escutas as suas historias,
que invariavelmente—recordas de outras vezes—
versam sobre o amor, as viagens, a dietética,
a sua família, o verão, a boa forma física,
o outro mundo, as drogas e a arte pós-moderna.
De quando em quando concordas, procurando os seus olhos
com os teus, roçando levemente os seus músculos,
e elevas aos céus uma angustiada súplica
para que aquela farsa termine quanto antes.
Passarão, mesmo assim, umas horas
até que, ébria e afónica, se abandone nos teus braços
e obtenhas a vitória pírrica do seu corpo,
que, pese às afirmações de três ou quatro amigos,
será muito pouco. E, quando estiver adormecida,
sairás roto para a rua em busca de uma chávena
de café gigantesca, maldizendo os copos
que te arruinaram o fígado na estúpida noite
e pensando que no final, mais vale
não as papar e falar-lhes dos teus livros,
amargar-lhes a vida com Shakespeare e com Griffith.
Ou procurar uma surda para que nada falte.

Tradução do espanhol por Carlos Mendonça Lopes

 

Noche de Ronda

En otro tiempo hubieras empleado la noche
en hablarle de libros y de viejas películas.
Pero ya eres mayor. Ahora sabes que a ellas
les aburren los tipos llenos de nombres propios,
que tu bachillerato les tiene sin cuidado.
De modo que le dejas tomar la iniciativa,
desconectas y finges que escuchas sus historias,
que invariablemente —recuerdas de otras veces—
versan sobre el amor, los viajes, la dietética,
su familia, el verano, la buena forma física,
el más allá, las drogas y el arte postmoderno.
De cuando en cuando asientes, recorriendo sus ojos
con los tuyos, rozando levemente sus muslos,
y elevas a los cielos una angustiosa súplica
para que aquella farsa termine cuanto antes.
Pasarán, sin embargo, todavía unas horas
hasta que, ebria y afónica, se abandone en tus brazos
y obtengas la victoria pírrica de su cuerpo,
que, pese a los asertos de tres o cuatro amigos,
será muy poca cosa. Y, cuando esté dormida,
saldrás roto a la calle en busca de una taza
de café gigantesca, maldiciendo las copas
que arruinaron tu hígado en la estúpida noche
y pensando que, al cabo, merece más la pena
no comerse una rosca y hablarles de tus libros,
amargarles la vida con Shakespeare y con Griffith.
O buscarse una sorda para que nada falte.

Transcrito de Los mundos y los días, Poesia 1970-2005, Visor, Madrid, 2012.

 

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