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António Canova - As três graças 1Há semanas trouxe ao blog a história do Julgamento de Páris. Hoje, a pretexto da bela escultura de António Canova (1757-1822) figurando As Três Graças, venho com um poema de Rufino.

As Três Graças (Gratiae em latim), de seus nomes Eufrosina Talia e Aglaia, são divindades da Beleza e têm como propósito espalhar a alegria na natureza e no coração de homens e deuses (ainda bem que existem, senão, que seria do mundo?).

Habitualmente representadas como três donzelas agarradas umas às outras, duas olham-se entre si e a do meio olha na direcção contrária. A fonte de todo este conhecimento que vos deixo é o precioso Dicionário da Mitologia Grega e Romana de Pierre Grimal. Às graças voltarei, inevitavelmente, tantas sãos as obras de arte que inspiraram.

Por enquanto convido-vos a participar do acontecimento relatado por Rufino.

Rufino, poeta grego contemporâneo de Marcial, como hoje é geralmente aceite, viu-se a certa altura colocado em embaraço semelhante ao de Páris no julgamento da beleza feminina, e da situação deixou-nos a história que segue:

Três beldades me escolheram para julgar-lhes as nádegas,

a mim mostradas no esplendor da nudez.

As de uma, florescendo em alvura veludosa, estavam

marcadas ambas por covinhas graciosas;

a nívea carne das de outra, a de pernas abertas, tinha

rubor mais forte que a púrpura da rosa;

as da terceira, calmaria sulcada de ondas mudas,

palpitavam suaves ao seu próprio impulso.

Se o juiz das deusas, Páris, tivesse visto estas nádegas,

Não quereria saber de mais nenhuma.

Tradução de José Paulo Paes

Acrescento uma outra tradução do mesmo poema, longe, no entanto, do belo efeito poético da anterior. Ressalvo que, se nesta segunda tradução se referem coxas em vez de nádegas, o meu desconhecimento do grego antigo não me permite saber de que parte do corpo constava o julgamento. Posso no entanto referir que José Luís Calvo Martinez, na tradução em castelhano do mesmo poema nos diz a abrir: “Del culo de tres muchachas yo fui juez. …

Vamos então à tradução do poeta Albano Martins

Fui juiz num concurso de coxas de três mulheres. Foram elas

que me escolheram, me mostraram a nudez esplendorosa

dos seus corpos. Marcada de pregas arredondadas,

a branca doçura das coxas de uma floria.

A carne Nevada da outra, de pernas afastadas, tinha uma cor

sanguínea, mais vermelha que uma rosa purpura.

A terceira mostrava-se serena como um mar tranquilo,

com a pele delicada apenas sacudida por estremecimentos involuntários.

Se o árbitro das deusas Tivesse contemplado estas coxas,

não teria querido olhar as primeiras.

Noticia bibliográfica

Este poema consta dos epigramas amorosos incluídos no volume V da Antologia Palatina, à qual jà me referi noutros artigos, e nela possui o número 35.

Traduções de José Paulo Paes em Poesia Erótica em tradução, ed. Companhia das Letras, 1990 e de Albano Martins em do mundo grego outro sol, ed. Asa Editores II , Porto, 2002.