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Abro um parêntesis no sobressalto dos dias para trazer mais uma perspectiva sobre o amor, desta vez sobre a escravidão da paixão, aqui num relato da Viscondessa de Balsemão (1749-1816):
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Só por ti vivo, só por ti respiro;
Sairá com a minha alma em pranto envolto,
Teu nome unido ao último suspiro.
A Viscondessa de Balsemão figura entre a legião de poetas pré-românticos cuja obra se encontra esquecida entre manuscritos inéditos e edições da época inacessíveis. Entre esta herança poética, serão muitos os poemas banais ou dignos do silêncio do esquecimento, mas entre eles surgem por vezes algumas pérolas, como o soneto que hoje transcrevo.
Nele se dá conta do absoluto da paixão amorosa, mesmo quando a relação se quebra:
Inda existe, cruel, inda em meu peito
Se nutre da paixão o fogo activo;
Inda contra o meu gosto por ti vivo,
Fazendo o sacrifício mais perfeito.
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A seguir refere o soneto como ela se agarra à pele e não larga, fazendo o apaixonado rebolar-se no prazer da sua dor:
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Inda te adoro, ainda te respeito
Vendo em ti de meus males o motivo,
Porém o coração de amor cativo,
No cativeiro vive satisfeito.
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Mais à frente regista o poema como naquele vai-vem do querer e não querer se alimenta o fogo da paixão:
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Se às vezes contra ti queixumes solto,
Do que fiz insensato então me admiro
E aos meus antigos sentimentos volto.
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Percorridos que estão os caminhos que o(a) apaixonado(a) atravessa quando escravo(a) da paixão, resta a leitura integral do soneto:
Inda existe, cruel, inda em meu peito
Se nutre da paixão o fogo activo;
Inda contra o meu gosto por ti vivo,
Fazendo o sacrifício mais perfeito.
Inda te adoro, ainda te respeito
Vendo em ti de meus males o motivo,
Porém o coração de amor cativo,
No cativeiro vive satisfeito.
Se às vezes contra ti queixumes solto,
Do que fiz insensato então me admiro
E aos meus antigos sentimentos volto.
Só por ti vivo, só por ti respiro;
Sairá com a minha alma em pranto envolto,
Teu nome unido ao último suspiro.
(Misc. Poética. Jornal de poesias inéditas, p15)
Transcrito de Zenóbia Collares Moreira, O Lirismo Pré-Romântico da Viscondessa de Balsemão, Edições Colibri, Lisboa, 2000.
Abre o artigo a imagem do detalhe de uma pintura de Tamara de Lempicka (1898-1980) – Mulher à guitarra.