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Nos primeiros meses de vida do blog, há cerca de três anos, publiquei no artigo De vez em quando, PESSOA. Hoje, DÁ A SURPRESA DE SER, um poema menos conhecido do poeta. Venho agora com uma Glosa de Sophia de Mello Breyner Andressen (1919-2004) a esse mesmo poema, escrita em 1968(?).
Sophia segue quase estrofe a estrofe o poema de Pessoa mas desta vez o objecto da admiração é um homem e não uma mulher como em Pessoa.
O erotismo que ressoa em ambos os poemas, ainda que em Sophia de forma ténue, é pouco frequente na obra destes poetas, mas na poesia de Sophia, no seu apreço pelo belo consubstanciado na arte grega antiga, ele implicitamente surge.
GLOSA
Dá a surpresa de ser
É alto de um loiro escuro
Faz bem só pensar em ver
Seu gesto firme e seguro
Tem qualquer coisa de mastro
Tem qualquer coisa de sol
Saber que existe sossega
Como no mar o farol
Há qualquer coisa de rude
Em sua beleza extrema
Como saber a crueza
Que há no dentro do poema
Tem qualquer coisa de limpo
Apetece como o sal
Espanta que seja real
Sua perfeição de Olimpo
Há qualquer coisa de toiro
Na largura dos seus ombros
Navegam brilhos e assombros
No obscuro do seu loiro
1968(?)
O poema Glosa foi publicado pela primeira vez em Ilhas (1989) e transcrito de Obra Poética, Editorial Caminho, Lisboa, 2001.