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Tag Archives: Salvador Espriu

Um poema de Salvador Espriu

19 Quinta-feira Nov 2020

Posted by viciodapoesia in Poesia Espanhola

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Salvador Espriu

Se na leitura imediata do poema de Salvador Espriu (1913-1985) que hoje transcrevo, podemos ler a actualidade de Espanha ao tempo do franquismo, quando as autonomias não eram reconhecidas e atentados e repressão eram parte do quotidiano, o poema permanece de leitura universal e intemporal no seu apelo à concórdia e ao diálogo na solução das divergências políticas que permanentemente atravessam os povos. 



Poema XLVI do livro La Pell de Brau, A Pele de Touro em português

 

Por vezes é forçoso e necessário 

que um homem morra por um povo,

mas nunca um povo inteiro há-de morrer

por um só homem:

recorda sempre isto Sepharad.

Faz que sejam seguras as pontes de diálogo

e procura compreender e estimar

a razão e as falas diversas de teus filhos.

Que lentamente nas sementeiras caia a chuva

e o ar passe qual mão estendida,

benigna e suave sobre os vastos campos.

Que Sepharad viva eternamente

na ordem, na paz e no trabalho,

na difícil e merecida 

liberdade.

 

Tradução de José Bento

in Poemas do Último Século antes do Homem, Antologia, Editorial Inova/o ouro do dia, Porto, 1979.

O poema foi também traduzido por Manuel de Seabra no livro Salvador Espriu, A Pele de Touro, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975, com diferenças mínimas, mas suficientes para me decidir pela tradução de José Bento.

 

Uma última nota, talvez desnecessária: Sepharad, referida no poema, era a designação dada pelos judeus à Península Ibérica antes da sua expulsão pelos Reis Católicos de Espanha no século XV, e a seguir pelo rei D. Manuel I de Portugal como condição do seu casamento com uma princesa espanhola, daí o serem conhecidos como judeus sefarditas.



Abre o artigo a imagem de um mapa publicado em 1492 representando a Terra como supostamente seria de acordo com Ptolomeu. O mapa pertence à Hain Collection, Library of Congress Geography and Map Division.





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Dos Deveres em política — um poema de Salvador Espriu

15 Sexta-feira Ago 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas, Prosa

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Cícero, Grécia, Platão, Salvador Espriu

Ambrogio LORENZETTI - efeitos do bom governo na cidade 1

Terá talvez havido um tempo em que a política era entendida generalizadamente como o serviço dos outros. É escassa a memória histórica de tal. Mas lembrar o que deve ser nunca é perda de tempo. Escreveu-o o romano Cícero (106-43 a. C.) em Dos Deveres com quem inicio o artigo, citando o grego Platão (428/7-328/7a. C.),  e lembra-o Salvador Espriu (1913-1985), o poeta catalão, de quem depois transcrevo o poema XXIV de A Pele de Touro em tradução de Manuel de Seabra.

 

... os que se preparam para governar a república ( Res publica) devem observar dois preceitos de Platão. Um é que devem cuidar tanto dos interesses dos seus concidadãos que todos os seus actos se devem aferir por esta medida, esquecendo o seu próprio bem-estar; o outro, é que cuidem de todo o corpo da Res publica, a fim de, ao tratarem de uma parte, não abandonarem as restantes. Pois tal como a tutela, assim a administração da Res publica deve ser conduzida, não para vantagem daqueles a quem está entregue, mas daqueles que lhes foram confiados.

(Cícero, Dos Deveres I.25.85)

 

A Pele de Touro — poema XXIV

 

Se te chamam a guiar

um breve momento

do caminhar milenário

das gerações,

afasta o oiro,

o sono e o nome.

Também a pompa

vã das palavras,

a vergonha do ventre

e das honrarias.

Imporás

a verdade

até à morte,

sem a ajuda

de nenhum consolo.

Não esperes nunca

deixar lembrança,

porque és apenas

o mais humilde

dos servidores.

O desvalido

e o que sofre

sempre serão

os teus únicos senhores.

Excepto Deus,

que te pôs

debaixo dos pés

de todos.

 

Salvador Espriu, A Pele de Touro, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1975.

 

O fragmento de Cícero, em tradução de Maria Helena da Rocha Pereira, foi transcrito de Romana, Antologia da Cultura Latina, 6ª edição aumentada, Babel, Lisboa, 2010.

A obra encontra-se integralmente traduzida em Edições 70, Lisboa.

 

Abre o artigo uma imagem do fresco de Ambrogio Lorenzetti (c. 1290-1348), Alegoria do Bom e do Mau Governo, no Palácio Cívico de Siena, mostrando os efeitos do bom governo na vida da cidade.

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