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O humano olhar de Henri Cartier-Bresson

02 Sábado Jun 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia

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Henri Cartier-Bresson

Olhar cada fotografia de Henri Cartier-Bresson (1908-2004) devolve-me de forma quase pungente, a irremediável passagem do tempo. Vi-as jovem adulto na excitação surpresa da descoberta de uma linguagem fotográfica desconhecida. Vejo-as de novo e meço a distância a que aqueles mundos fotografados estão do hoje; ou não!
No cerca de meio século que durou o seu fotografar, a partir do inicio dos anos 30 do século XX, pelo mundo houve guerras, houve paz, houve miséria e abundância, e existiram sobretudo sonhos, hoje desfeitos e entalados numa espécie de eterno retorno do animal que há em nós.
São frágeis as aquisições culturais, ainda que o homem só o seja no quadro de uma cultura que lhe dê o sentido do viver com os outros. E é esta aproximação ao sentido de viver com os outros que encontro nas fotografias de Henri Cartier-Bresson.
Nunca é o anedótico que fala. Sendo todas e cada uma das suas fotos conhecidas, instantâneos peculiares onde a surpresa ao olhar se conserva, mesmo depois de observadas dezenas de vezes, é nesse tempo suspenso cada vez mais longe de nós que a reflexão se detém. Outros terão falado da composição plástica de cada imagem, do equilíbrio dos volumes no rectângulo fotografado, na forma como o jogo de sombras no quadro urbano contribui para a atmosfera da cena, e tudo isso é verdade, e uma lição permanentemente disponível para quem fotografa. Mas o que faz delas as obras-primas para lá da técnica, é o olhar sobre o humano. A gente que nelas nos surge, dos duques de Windsor ao deserdado do mundo, fazendo de todos semelhantes entre si, na exposição de um olhar, de uma atitude, de um estar que é afinal uma forma de ser. E ao vê-las instala-se em nós a sensação de que passámos a conhecer aquelas pessoas. São sempre pessoas, nunca são gente.
Deixo-vos com uma curta escolha.

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Do banho como fonte de pecado: Leandro de Sevilha (537-600)

01 Sexta-feira Jun 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Prosas

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Escola de Fontainebleau, Henri Cartier-Bresson, Leandro de Sevilha

Escreveu o Bispo Leandro de Sevilha (537-600) o livro “A instrução das virgens” para oferecer a sua irmã Florentina quando esta entrou como monja para um convento.

Vasto acervo de ensinamentos a transmitir por um homem conhecedor do mundo a uma jovem mulher prestes a ser entregue à contemplação do Todo-poderoso, nele respigo um aspecto que hoje talvez passe desapercebido, mas foi matéria de controvérsia por séculos: o banho ou antes, o prazer do próprio corpo decorrente da caricia do banho. São estas, considerações sobre o banho privado, e para sentirem como o bispo tinha provavelmente razão, o artigo vai ilustrado com 2 pinturas da Escola de Fontainebleau de entre o final do século XV e principio do século XVI, quando estas coisas já podiam se pintadas para gáudio e contemplação real.

Vamos então às considerações bispais:

…

Não te hás-de banhar por gosto ou para dar formosura ao corpo, senão apenas como remédio para a saúde. Quer dizer, usarás o banho quando a doença o exija, não quando o prazer o apeteça. Se o tomas quando não seja preciso, pecarás, pois está escrito: Não ponhais a vossa solicitude na concupiscência da carne.

A solicitude carnal que provém da concupiscência conceptua-se como vicio; não, por outro lado, os cuidados necessários para restabelecer a saúde. Por tal motivo, que não te arraste a banhar-te com frequência o prazer corporal, senão somente as exigências da enfermidade, e estarás livre de culpa se unicamente actuares por imperativo da necessidade.

(solicitude é aqui empregue no sentido de “afã ou diligencia em tratar ou conseguir algum fim”, de acordo com o Dicionário De Morais)

Sabeis agora, vós, leitor, que não te arraste a banhar-te com frequência o prazer corporal, e provavelmente é o que acontece com alguns nossos contemporâneos a ajuizar pela atmosfera em hora de ponta no metro ou em certas carreiras de autocarros.

No entanto, os conselhos do bispo não devem ter tido generalizada aplicação, ainda que o espectro do pecado lá estivesse, e o prazer do banho terá continuado a desfrutar-se, falam-nos dele as pinturas aqui mostradas.

Para final de conversa deixo o leitor com a contemplação do visível prazer do banho captado por Cartier-Bresson algures nos anos 30 ou 40.

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O Manuel Narciso pela pena de Brito Camacho (1862-1934) em terça-feira de Carnaval

21 Terça-feira Fev 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia, Prosas

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Aquilino Ribeiro, Brito Camacho, Henri Cartier-Bresson

Com o sabor e valores de uma época recuada, trago hoje um naco de prosa do esquecido Brito Camacho (1862-1934) a quem Aquilino Ribeiro (1885-1963) dedica um notável estudo no livro De Meca a Freixo de Espada à Cinta (1960).

O Manuel Narciso, maricas dos quatro costados, era ruim trabalhador e detestável pessoa; só para os trabalhos mulherengos tinha jeito e só para os seus amásios tinha demonstrações de estima. Era o pior dos criados, dizia o meu pai; era a melhor das criadas, dizia a minha mãe, e um pouco por esse motivo, mas principalmente por ser irmão da comadre Narcisa, conservou-se na casa até ser velho, muito velho, sempre resmungão, sempre maldizente, escandaloso nos seus actos, que por fim estadeava, provocando a indignação e o nojo. Dizia o compadre Rosa, erudito analfabeto:

– Este diabo é como as sereias, que da cintura para baixo são uma coisa, e da cintura para cima são outra.

Todos os anos, na terça-feira de carnaval, se mascarava de mulher, e era como se a um preso dessem liberdade, abrindo-lhe a porta da cadeia. O compadre João Catarino, quando o via de saias, lenço na cabeça, um xaile pelos ombros, padejando as ancas como as marafonas, não se dispensava de lhe dizer:

– Ó ladrão, tu hoje devias fingir de homem, para te não conhecerem!

 Para o curioso leitor deixo uma ligação onde encontra informação sobre Brito Camacho.

http://www.vidaslusofonas.pt/bcamacho.htm

A fotografia é de Henri Cartier-Bresson, de 1932, tirada em Alicante, Espanha

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