Escreveu o Bispo Leandro de Sevilha (537-600) o livro “A instrução das virgens” para oferecer a sua irmã Florentina quando esta entrou como monja para um convento.
Vasto acervo de ensinamentos a transmitir por um homem conhecedor do mundo a uma jovem mulher prestes a ser entregue à contemplação do Todo-poderoso, nele respigo um aspecto que hoje talvez passe desapercebido, mas foi matéria de controvérsia por séculos: o banho ou antes, o prazer do próprio corpo decorrente da caricia do banho. São estas, considerações sobre o banho privado, e para sentirem como o bispo tinha provavelmente razão, o artigo vai ilustrado com 2 pinturas da Escola de Fontainebleau de entre o final do século XV e principio do século XVI, quando estas coisas já podiam se pintadas para gáudio e contemplação real.
Vamos então às considerações bispais:
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Não te hás-de banhar por gosto ou para dar formosura ao corpo, senão apenas como remédio para a saúde. Quer dizer, usarás o banho quando a doença o exija, não quando o prazer o apeteça. Se o tomas quando não seja preciso, pecarás, pois está escrito: Não ponhais a vossa solicitude na concupiscência da carne.
A solicitude carnal que provém da concupiscência conceptua-se como vicio; não, por outro lado, os cuidados necessários para restabelecer a saúde. Por tal motivo, que não te arraste a banhar-te com frequência o prazer corporal, senão somente as exigências da enfermidade, e estarás livre de culpa se unicamente actuares por imperativo da necessidade.
(solicitude é aqui empregue no sentido de “afã ou diligencia em tratar ou conseguir algum fim”, de acordo com o Dicionário De Morais)
Sabeis agora, vós, leitor, que não te arraste a banhar-te com frequência o prazer corporal, e provavelmente é o que acontece com alguns nossos contemporâneos a ajuizar pela atmosfera em hora de ponta no metro ou em certas carreiras de autocarros.
No entanto, os conselhos do bispo não devem ter tido generalizada aplicação, ainda que o espectro do pecado lá estivesse, e o prazer do banho terá continuado a desfrutar-se, falam-nos dele as pinturas aqui mostradas.
Para final de conversa deixo o leitor com a contemplação do visível prazer do banho captado por Cartier-Bresson algures nos anos 30 ou 40.