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Esperança segundo Czeslaw Milosz

16 Domingo Mar 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Czeslaw Milosz

EsperançaHá quem diga que os olhos nos iludem

E que nada existe, apenas aparenta,

Mas justamente esses não têm esperança.

Foge à reflexão filosófica o conceito de esperança: de que forma organizamos em nós o mundo e como nesse estar entra a Esperança. Não é sentimento, não é crença; fará talvez parte da força vital que todos os dias nos leva a levantar cabeça, e quando desaparece, o fim bateu-nos à porta.

De forma admirável, como só a poesia por vezes consegue, Czeslaw Milosz (1911-2004), num poema do tempo da segunda guerra mundial dá-nos uma chave possível:

 

Esperança surge, quando se acredita / Que a Terra não é um sonho,…

 

Na versão inglesa feita pelo autor, a abertura do poema acima transcrita escreve-se assim:

 

Hope is with you when you believe / The earth is not a dream…

 

O poema publicado no livro “Ocalenic” (Salvação), 1945, integra um conjunto de vinte poemas sub-titulado O Mundo. Antecede-o o poema Fé e segue-se-lhe o poema Amor, para os quais não encontrei tradução portuguesa. Se resultar a minha tentativa de os verter em português aqui aparecerão. Por agora, com Esperança vos deixo.

 

 

Esperança

 

Esperança surge, quando se acredita

Que a Terra não é um sonho, mas um corpo vivo,

Que não mentem o ouvido, o tacto, a visão

E que todas as coisas que aqui conhecias

São como um jardim visto do portão.

 

Entrar lá não se pode. Mas ele existe com rigor.

Se melhor olhássemos e com mais sabedoria,

No jardim do mundo uma nova flor

E mais do que uma estrela se avistaria.

Há quem diga que os olhos nos iludem

E que nada existe, apenas aparenta,

Mas justamente esses não têm esperança.

Pensar que ao virar as costas

O mundo desaparecerá de repente

Como que roubado por um delinquente.

 

in “Ocalenic” (Salvação), 1945

 

Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves, publicada em Alguns gostam de poesia, Antologia, Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska, Cavalo de Ferro Editores, Lisboa, 2004.

 

A foto foi feita por mim, há alguns anos, nesta cidade de Lisboa.

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A assim chamada vida – poema de Czeslaw Milosz

02 Terça-feira Ago 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia, Poetas e Poemas

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Czeslaw Milosz

 

A assim chamada vida

A assim chamada vida, quer dizer

tudo o que é assunto de telenovela

não lhe parecia digno de relatar.

Mesmo que quisesse falar, não o sabia.

Admiravam-no as histórias intrincadas de homens e mulheres

que se iam arrastando até à deslembrança coruscante.

Ele próprio só sabia cerrar os dentes, aguentar e

esperar que a velhice inviabilizasse os dramas,

que a novela de amores, ódios, tentações e traições

rebentasse como uma bola de sabão.

Czeslaw Milosz (1911-2004)

Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves, publicada em Alguns gostam de poesia, Antologia, Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska, Cavalo de Ferro Editores, Lisboa, 2004.

SO-CALLED LIFE

So-called life: everything that provides material for a soap opera,

he didn’t think was worth relating,

or maybe he wanted to tell it and couldn’t.

He was surprised by the tangled tales of men and women,

stretching out to a flickering oblivion.

He himself only knew how to clench his teeth and bear it,

to wait, until old age took from the dramas their meaning,

and the soap opera of loves, hatreds, temptations

and betrayals, dropped off to sleep.

O poema pertence ao ultimo livro do poeta, THIS (2000) e foi recolhido em New and Collected Poems (1931-2001) em edição da PENGUIN, na serie Modern Classics, em 2001.

 

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