Livros? Tal como a roda, depois de inventados nunca mais a humanidade passou sem eles, qualquer que seja a forma que pelos tempos foram revestindo.

Instrumento privilegiado de transmissão ao maior número, de saber, experiências, reflexões, fantasias, ou das mais variadas formas que a vida pode revestir, eles vivem connosco ainda que nem sempre o percebamos.

Livros toda a gente sabe o que são. O que podem conter, menos. E ao deparar com algum ter a curiosidade de saber o que possa estar lá dentro, pouquíssimos. E nisto estamos, e todos os anos há um dia mundial do livro. Para quê? Pergunto-me eu.

Sabe quem lê, que dos livros que lemos fica um rasto, um fio de lembrança, às vezes quase uma nódoa, negra, da dor de saber. Saber dói, mas quando começa, é inescapável.

É a sensibilidade de leitor estribada num gosto decorrente de uma cultura, o que faz as nossas escolhas sinceras. A aceitação da nossa verdade interior facilita a escolha sem receio de opiniões terceiras. Da mundanidade, ou seja, daquele adorno de poderosos, aqui não falo, como não falo dum gostar por ouvir dizer.

Às vezes surpreendo num ou outro blog ou página de Facebook, sobretudo de jovem brasileiro(a), textos que me interrogam: de que estão a falar? Em que língua se exprimem? Imagino que os autores, se o acaso os fizesse ler o que escrevo, teriam as mesmas perguntas. Isto leva-me a uma questão essencial sobre livros: é preciso saber ler o que contêm. E tal exige um conhecimento da língua em que estão escritos um pouco acima dos níveis mínimos. Só depois, pouco a pouco, é possível ir descobrindo os fabulosos segredos que nos livros se guardam. Mas tudo isto sabe quem me lê, pois certamente é leitor de livros, e, talvez, até compulsivo.
Por volta dos meus onze, doze anos, fui leitor voraz de histórias de cowboys. Nos pequenos livros de banda desenhada que à época havia, mas sobretudo de umas historietas em prosa publicadas nuns livrinhos pequeninos de uma colecção 6 balas, se bem recordo. Nesses livros o deserto, e os adversários, eram a matéria de ficção, definidora de uma barreira a vencer, e muitas vezes intransponível, para chegar à terra prometida, que no caso era a Califórnia. Vejo hoje como eram lições de lealdade, bravura, gosto da aventura e recompensa que estimulam o desafio de viver. Se o gosto de ler me chegara antes com as histórias encantadas que a infância aprecia, nunca mais parou. E à ideia de umas férias sem programa todo eu sorrio. Como agora. Encho uma mala de livros e parto para o recatado sossego de leituras e outros pequenos prazeres.

Talvez os livros tenham sido inventados para me fazer feliz…

Carlos Mendonça Lopes

As fotos que acompanham o artigo fê-las o mestre André Kertész (1894-1985) em 1915 na Hungria, a de abertura, a outra não identifiquei local nem data. Ambas integram um vasto conjunto dedicado a captar pessoas a ler, uma pequena parte das quais pode ser encontrada aqui no blog.