E de novo o amor! Aquele não-sei-quê físico que incendeia a alma e inexplicavelmente nos agarra, ou como escreve superiormente Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007) no poema de hoje:
Amor é o olhar total, que nunca pode
ser cantado nos poemas ou na música,
…
Fiama fala de amor como absoluto físico sem um entendimento de relação, e aí surge como estranho. Que amor é este tão-só próprio e bastante como a poetisa refere? Escorre … como chuva cai / na minha cara …, e depois? Há sempre um depois a que o poema foge deixando-nos apenas um … em si mesmo absoluto táctil, … que à maior parte de nós deixa certamente insatisfeitos. Ao físico o amor exige sempre o psicológico que nesta definição está ausente. Parece antes o poema do amor-instante que se espera seja eterno. Será?
Amor é o olhar total, que nunca pode
ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão-só próprio e bastante,
e em si mesmo absoluto táctil,
que me cega, como chuva cai
na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre apenas à água.
O amor escrito nos livros tem sempre pouco a ver com a complexidade da vida real, mas na sua variedade ajuda-nos a percebê-lo melhor em nós e nos outros.
Abre o artigo a imagem de uma pintura de Renoir (1841-1919), Mulher a ler.