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Matisse - Standing Nude with Raised Arms 1947 500pxAmor! Sentimento de todas as idades e de todas as épocas, motivo maior e perene na poesia, é certamente adequado para a leitura final deste ano de graça de 2015, na esperança que 2016 traga em si, em avalanche, amor suficiente para saciar a humanidade sedenta dele, e se houver rateio, que os leitores do blog sejam satisfeitos em primeiro lugar.

 

Feliz 2016 a todos!

 

O poema de encerramento do ano, um soneto de amor, chega-nos da Sicília, da primeira metade do século XIII, escrito por Jacopo (ou Giacomo) da Lentini (c.1210 – c.1260), considerado o inventor do soneto.

Desde então, ainda que com lento desenvolvimento até ao esplendor renascentista, o soneto não deixou de ser a forma de excelência para exprimir as dores e alegrias das paixões humanas, com um pico absoluto nos sonetos de Camões.

Falando do fogo do amor que abrasa, da alegria, do prazer, e da dor, este soneto inicial tem lá tudo o que posteriormente foi apenas glosado, por vezes de forma sublime.

 

 

Soneto XXXIV

 

Quem nunca tivesse visto o fogo

Não acreditava que pudesse queimar.

Ao descobrir o seu fulgor

Acharia que era coisa de folgar.

 

Mas se lá pusesse a mão,

Saberia quanto o fogo queima!

Eu toquei no fogo de amor,

Fogo que abrasa: Ah, se esta fogueira,

 

Ardesse em vós, minha Senhora,

Vós que pareceis dar prazer,

Vós que não dais senão dor!

 

Por certo o amor faz vilania

Não te unindo, tu que escarneces,

A mim, teu escravo sem alegria.

 

Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo

in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, 2001.

 

Original do poema

 

Soneto XXXIV

 

[C]hi non avesse mai veduto foco

no crederia che cocere potesse,

anti li sembraria solazzo e gioco

lo so isprendor[e], quando lo vedesse.

 

Ma s’ello lo tocasse in alcun loco,

be·lli se[m]brara che forte cocesse:

quello d’Amore m’à tocato un poco,

molto me coce – Deo, che s’aprendesse!

 

Che s’aprendesse in voi, [ma]donna mia,

che mi mostrate dar solazzo amando,

e voi mi date pur pen’e tormento.

 

Certo l’Amor[e] fa gran vilania,

che no distringe te che vai gabando,

a me che servo non dà isbaldimento.

 

Edição de Roberto Antonelli, Roma, 1979