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Amor! Sentimento de todas as idades e de todas as épocas, motivo maior e perene na poesia, é certamente adequado para a leitura final deste ano de graça de 2015, na esperança que 2016 traga em si, em avalanche, amor suficiente para saciar a humanidade sedenta dele, e se houver rateio, que os leitores do blog sejam satisfeitos em primeiro lugar.
Feliz 2016 a todos!
O poema de encerramento do ano, um soneto de amor, chega-nos da Sicília, da primeira metade do século XIII, escrito por Jacopo (ou Giacomo) da Lentini (c.1210 – c.1260), considerado o inventor do soneto.
Desde então, ainda que com lento desenvolvimento até ao esplendor renascentista, o soneto não deixou de ser a forma de excelência para exprimir as dores e alegrias das paixões humanas, com um pico absoluto nos sonetos de Camões.
Falando do fogo do amor que abrasa, da alegria, do prazer, e da dor, este soneto inicial tem lá tudo o que posteriormente foi apenas glosado, por vezes de forma sublime.
Soneto XXXIV
Quem nunca tivesse visto o fogo
Não acreditava que pudesse queimar.
Ao descobrir o seu fulgor
Acharia que era coisa de folgar.
Mas se lá pusesse a mão,
Saberia quanto o fogo queima!
Eu toquei no fogo de amor,
Fogo que abrasa: Ah, se esta fogueira,
Ardesse em vós, minha Senhora,
Vós que pareceis dar prazer,
Vós que não dais senão dor!
Por certo o amor faz vilania
Não te unindo, tu que escarneces,
A mim, teu escravo sem alegria.
Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
in Rosa do Mundo, 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim, 2001.
Original do poema
Soneto XXXIV
[C]hi non avesse mai veduto foco
no crederia che cocere potesse,
anti li sembraria solazzo e gioco
lo so isprendor[e], quando lo vedesse.
Ma s’ello lo tocasse in alcun loco,
be·lli se[m]brara che forte cocesse:
quello d’Amore m’à tocato un poco,
molto me coce – Deo, che s’aprendesse!
Che s’aprendesse in voi, [ma]donna mia,
che mi mostrate dar solazzo amando,
e voi mi date pur pen’e tormento.
Certo l’Amor[e] fa gran vilania,
che no distringe te che vai gabando,
a me che servo non dà isbaldimento.
Edição de Roberto Antonelli, Roma, 1979