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Ontem, entre eufóricos e alarmados, os computadores do wordpress davam-me conta de uma média de 79 visitas por hora ao blog. Afinal não era razão de júbilo. O anúncio da morte de Herberto Helder trazia mais gente à procura da sua poesia. Passado o entusiasmo mediático, regressamos à média habitual de 23 visitas por hora.
Persistentemente veio-me à memória o poema Glória de Malcolm Lowry (1909-1957) que Herberto Helder (1930-2015) mudou para português. Transcrevo-o em recordatória a quem não o conheça.
Glória
A glória é como uma terrível catástrofe,
pior que a casa incendiada; enquanto
se abate a trave-mestra, o fragor
da destruição repercute-se cada vez mais depressa;
e tu contemplas tudo aquilo, inane
testemunha da danação.
Como uma bebedeira a glória devora
a casa da alma, revela que trabalhaste
para coisa pouca: para ela —
ah, queria que esse beijo traiçoeiro nunca tivesse
molhado a minha face: queria
fundir-me, só, para sempre, na obscuridade, na noite.
1987 e 1996-97.
Publicado em OUOLOF, Poemas mudados para portugués por Herberto Helder, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997.
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