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Louis Jean Francois Lagrenee A leitora

Despida de preconceitos, a nossa bela lê. Se não lê poesia, leremos nós por ela, em sua bela companhia.

*

Onde porei meus olhos que não veja

A causa, donde nasce meu tormento?

A que parte irei co pensamento

Que para descansar parte me seja?

 

Já sei como se engana quem deseja,

Em vão amor, firme contentamento:

De que nos gostos seus, que são de vento,

Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.

 

Mas inda, sobre claro desengano,

Assim me traz esta alma sojigada

Que dele está pendendo o meu desejo…

 

E vou de dia em dia, de ano em ano,

Após um não sei quê, após um nada;

Que, quanto mais me chego, menos vejo!

**

Da vossa vista a minha vida pende,

Maior bem para mim não pode ser

Que ver-vos, mas não ouso de vos ver;

Que vosso alto respeito mo defende.

 

O meu amor, que o vosso só pretende,

Receio que se venha a conhecer,

Nos olhos, que mal podem esconder

O desejo, dum peito que se rende.

 

Por vós a tal estremo d’Amor venho,

Que com força resisto a meu desejo,

Porque nada de mim vos descontente.

 

Mas neste mal, senhora, este bem tenho,

Que sempre tal, qual sois, n’alma vos pinto

Sem dar que ver, nem que falar à gente.

Sonetos LXXIII e LIX de Diogo Bernardes (1530-1605), Rimas Várias—Flores do Lima.