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De entre as variadas perspectivas de sentir o beijo como entrega da alma, que a poesia conserva, este poema de autor anónimo da cultura celta (Irlanda), provavelmente dos séculos XV/XVI, traz uma inusual escolha:
Mais doce que o mel um beijo eu tive
De mulher casada que o deu por amor.
O poema abre com a recusa do beijo da menina virgem:
Guarda para ti esse teu beijo
Menina virgem dos dentes brancos!
e desenvolve-se explicitando os prazeres do beijo da casada.
Para que não restem duvidas a ninguém, o nosso homem remata com uma declaração de fidelidade perene:
Outras mulheres novas e velhas não hei-de amar
Pois que o seu beijo é como é, foi e será.
Passemos então ao poema integral:
Afasta de mim esses lábios
Guarda para ti esse teu beijo
Menina virgem dos dentes brancos!
Nesse teu beijo eu gosto não acho
Longe de mim guarda teus lábios.
Mais doce que o mel um beijo eu tive
De mulher casada que o deu por amor.
Até que se acabem o mundo e os dias
Beijo de gosto só esse terei; esse e não outro.
Até que a veja tal como é em sua pessoa
Por obra e graça do filho de Deus
Outras mulheres novas e velhas não hei-de amar
Pois que o seu beijo é como é, foi e será.
Tradução de José Domingos Morais, in Rosa do Mundo, 2001 poemas para o futuro.
A foto que abre o artigo, California, 1955, é de ELLIOTT ERWITT (1928)