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Na pintura de género holandesa produzida no século XVII, o espectador de hoje tem a ilusão de ter acesso aos diferentes aspectos da vida quotidiana da época graças a uma especial técnica de composição das pinturas, onde ao rigor da perspectiva se associa uma espécie de espontaneidade do gesto, captando em flagrante determinada actividade, embora a pintura seja tudo menos tirada do natural, como fizeram mais tarde os impressionistas, mas cuidadosamente organizada na arrumação da cena por forma a que a iluminação natural chegasse aos personagens, oferecendo a imagem pretendida ao assunto da pintura. Tal como nas cenas de taberna em que a moralidade se extrai da atitude dos personagens (e a elas irei em próximo post) assim também na pintura onde a exaltação das virtudes domésticas se pretende mostrar.
Escrevi no artigo anterior que os clientes desta pintura procuraram nela rever as suas vidas e como escreveu Hegel “eles querem encontrar nos seus quadros a limpeza das suas cidades e o gozo da sua paz doméstica”. Espero que o conjunto de obras de Pieter de Hooch (1629-1684) que hoje aqui trago, dê conta do que afirmei.
À família reunida para a posteridade acrescentam-se os episódios de um dia-a-dia na serenidade de vidas sem angustia, fruindo do bem estar material que o detalhe dos adereços evidencia.
O aleitamento de um recém-nascido.
Cena doméstica com criança e cão.
Cena doméstica com criada e criança.
Cena doméstica – descascar maçãs.
Cena doméstica no pátio com senhora e criada.
Cena doméstica no pátio: mãe, filha e criada, talvez preparando-se para sair.
Acrescentam-se a estas cenas tranquilas do viver doméstico, os momentos de lazer bebendo um vinho e conversando à mesa, onde tanto os casais como jovens namorando podem figurar.
Fiquemos por aqui na viagem a este mundo imaginado e que talvez tenha existido tal como o pintaram.
Passear nestas pinturas, fruindo o detalhe da composição, a iluminação da cena e o recorte dos personagens em conversação eterna, permite ao apreciador de pintura um prazer sem fim.
Para o leitor a quem este mudo holandês do século XVII desperte a curiosidade, sugiro a leitura do romance de Agustina Bessa-Luís – O bicho da terra, onde a pretexto de recriar a biografia do filósofo Uriel da Costa, o génio da escritora nos faz passear por este mundo perdido.