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Também ama!

Não apanhes, ó donzela,
Essa florinha singela,
Que entre teus dedos medrosa
Já se agita com tremor:
Como tu também formosa,
Inocente quanto esquiva,
Ei-la aí já pensativa,
Porque também sente amor.

À mais bela criatura,
Não faças a travessura
De roubar-lhe a pátria e tudo:
Que mal te fez a infeliz?
Nessa cama de veludo,
A filha da Primavera,
Cuidadosa, alguém espera…!
Ouçamos o que ela diz:

“Borboleta, como tardas!
Borboleta, porque aguardas?
Oh! Não sabes quanto eu amo?
Tu não vês sumir-se a luz?
Inda hoje no meu ramo
Não poisaste, mensageira
Da florinha feiticeira,
Que de longe me seduz!”

Cala… Eis chega a borboleta,
Asas d’oiro e violeta;
Poisou na flor que embalança;
Dentro nela se escondeu…
Que lhe segreda?… uma esp’rança…!
Oh! Não colhas, não, donzela,
Essa florinha singela,
Que é mais venturosa que eu!

Encontrei  este poema de um desconhecido Luís Filippe Leite no Almanaque de Lembranças para 1852.
Estranha forma de falar de amor a uma donzela naquele meado do século XIX, relatando uma paixão entre duas flores mediada por uma borboleta. Vejam como os jovens à época se entretinham nos seus jogos de paixão.
Adormecido nas páginas de uma publicação que hoje ninguém lê, ei-lo a vogar no mundo da net neste tecnológico século XXI.