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Desde que espreite o desejo e o sujeito seja poeta, o erótico ganha a palavra da poesia. E do incensado autor do Poema Sujo, trago-vos algo mais terno e sabiamente contado: o sorriso que conta.
UM SORRISO
Quando
com minhas mãos de labareda
te acendo e em rosa
embaixo
te espetalas
quando
com o meu aceso archote e cego
penetro a noite de tua flor que exala
urina
e mel
que busco eu com toda essa assassina
fúria de macho?
que busco eu
em fogo
aqui embaixo?
senão colher com a repentina
mão do delírio
uma outra flor: a do sorriso
que no alto o teu rosto ilumina?
Para não deixar o(a) leitor(a) sedento(a), acrescento mais dois poemas eróticos:
SORTILÉGIO
Estava eu ali
no escuro e
de repente
o silêncio se move
enruga-se, melhor
dizendo, e me
roça as virilhas
(onde dormiam fúrias)
É quando uma
quase voz me toca
o lado esquerdo
do corpo para onde
me volto
e estás ali
nua
emergias da treva
as coxas o ventre
os seios
eram luas encantadas
e do centro
do teu corpo
a macia estrela negra
me chamava
para dentro de si
enquanto o teu rosto menino
espantosamente familiar
sorria a me dizer: jamais
jamais jamais
escaparás
COITO
Todos os movimentos
do amor
são noturnos
mesmo quando praticados
à luz do dia
Vem de ti o sinal
no cheiro ou no tato
que faz acordar o bicho
em seu fosso:
na treva, lento,
se desenrola
e desliza
em direcção a teu sorriso
Hipnotiza-te
com seu guizo
envolve-te
em seus anéis
corredios
beija-te
a boca em flor
e por baixo
com seu esporão
te fende te fode
e se fundem
no gozo
depois
desenfia-se de ti
a teu lado
na cama
recupero minha forma usual.
Noticia bibliográfica
UM SORRISO pertence ao livro NA VERTIGEM DO DIA (1975-1980), SORTILÉGIO e COITO integram o livro POEMAS RECENTES. Todos os poemas foram transcritos de Obra Poética publicada em 2003, em Portugal, por edições quasi.
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Absolutamente sublime!
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