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Apenas a eloquência de um poema do poeta andaluz José Manuel Caballero Bonald (1926)

 

Todas as noites deixo

entre os livros a minha solidão,

abro a porta aos oráculos,

fundo a minha alma com o fogo

do salmista.

 

                                               Que contrária

vontade de perigo me desvela,

quebra a vigilante

sede de viver na minha palavra.

 

                                               Todas

as noites vivo inutilmente

a frustração do dia, recupero

as horas mortas da minha liberdade,

consisto no que fui.

 

(Mão esquecida entre os lençóis

rasga papéis, mancha o último

pedaço do meu sonho.)

 

                                               Oh coração

sem ninguém – para quê

tantas páginas vãs, tantos

hinos vazios? Olha

em teu redor – que fica? Estamos

sós: toda

a vida cabe entre o calar

e o sonho. Aqui

a minha solidão é a minha alegria:

um livro, um vaso, um nada.

 

 

A tradução é de Egito Gonçalves  e foi publicada em Poesia Espanhola do Após-Guerra, Portugália, s/d.