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É a caricia da mão na minha face

e o meu olhar repousado

o sorriso que passa

rápido

de mim a ti.

 

É toda uma ternura que nos chama

é a desolada solidão de quem se ama

e conhece o espaço

que fica

de aqui ali.

 

É uma inclinação suspensa

por toda a pele que nos limita o corpo

gemido, doçura, pena

como o poema

a chamar por mim.

 

Integrando o pequeno grupo de grandes poetas portugueses do século XX, a poesia de Salette Tavares (1922-1994) é pouco conhecida. Espero ter o tempo para a ela regressar de forma circunstanciada.

Por agora, além do poema de abertura, deixo-vos com outro poema de amor, ambos de Espelho Cego primeiro livro da autora publicado em 1957.

 

Aqui onde chegaste

a tua voz trocou-se,

diz-me

onde puseste

o amor com que te sei.

 

Meridiano do meu corpo

mundo escorrido limite

raiz encharcada d’água

a respirar-me no peito.

 

Vela de cera acendida

no teu olhar que morreu

eu sei-me

água, terra, morte, vida,

cor do vento sobre a pele,

eu sei-te

luz do ar do meu cabelo.

 

Em despedida aqui fica um exemplo da sua poesia concreta, arranhisso, em que a disposição das palavras nos remete visualmente para o bicho.

 

 

Noticias biográficas sobre a autora podem ser facilmente encontradas na net.