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Entretido a vasculhar a biblioteca em busca de poesia erótica para o meu novo entretém, o blog obelosexo.tumblr.com, tenho descurado o alimento poético dos leitores do vicio da poesia.
Não será ainda hoje a visita circunstanciada à poesia de José Lino Grünewald (1931-2000), que me encanta na sua despretensiosa simplicidade, mas, e sem comentários adicionais, deixo três poemas exteriores à sua poesia visual, da qual já incluí um exemplo em A culinária chega ao blog com A VIDA de Zelino.
Nestes tempos em que a politica questiona o nosso pseudo civil service, leia-se este soneto burocrático, que em gente com mais idade fará lembrar o formulário dos requerimentos em papel selado, e a todos revela o fascinante mundo do “quanto mais me reporto mais equivalentemente me certifico”:
soneto burocrático
salvo melhor juízo doravante
dessarte data vénia por suposto
por outro lado maxime isso posto
todavia deveras não obstante
pelo presente atenciosamente
pede deferimento sobretudo
nestes termos quiçá aliás contudo
cordialmente alhures entrementes
sub-roga ao alvedrio ou outrossim
amiúde nesse interim senão
mediante mormente oxalá quão
via de regra tê-lo-ão enfim
ipso facto outorgado mas porém
bem substabelecido assim amém
Depois de semelhante transtorno, valham-nos as mulheres lembradas neste galanteio
todas as mulheres são
um enlace de perfumes
um haikai de ai-ai-ai
um haikai de vai-vai-vai
um haikai de sai-sai-sai
um haikai de cai-cai-cai
e embrulhados em saboroso cai-cai-cai proponho-vos tornar à felicidade
tornar à felicidade
quando à hora da saudade
ciciam as aves breves
sob o anelo de ares leves.
oh! Quem azul não queria?
quem não quereria e ria?
pára o mundo, baixa a autora
rios sorriem agora.
o universo enlaça a festa
cores vibram na floresta.
chega alegre o vate ao mundo
e esquece que é profundo.
Não sei de melhor conselho.
Noticia bibliográfica
Os poemas foram transcritos de escreviver, edição da obra poética completa do autor, publicada por editora PERSPECTIVA, São Paulo, Brasil, 2008.