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É sempre com alguma perplexidade que olho as fotos de retrato de nativos norte-americanos feitas por Edward S. Curtis (1868-1952) entre finais do século XIX e inicio do século XX.
Mostram uma humanidade tão estranha à que conheci ou me foi próxima que as perguntas surgem em catadupa ao olhar aqueles rostos.
Que pensavam sobre o mundo, sobre si próprios, sobre a sociedade em que viviam, sobre as questões ontológicas da existência, sobre as relações familiares e entre sexos?
Tudo perguntas que ficam por responder. Mas a forma de trajar, as decorações capilares, enfeites e adornos na face, algo dirão a quem tenha a chave para os perceber.
À época das fotos ou pouco depois, Marcel Proust escrevia Em Busca do Tempo Perdido e em Viena, por exemplo, fervilhavam as vanguardas artísticas, e as descobertas de Freud faziam furor. Que aproxima estas duas humanidades, a humanidade que protagoniza a saga de certa burguesia francesa ou austríaca, e estas pessoas, dignitários nas respectivas sociedades, dispondo de outros meios materiais de sobrevivência, mas sobretudo nos antípodas das aquisições culturais destas sociedades europeias suas contemporâneas.
As mulheres são belas quando jovens, envelhecem como toda a humanidade à época, e os homens apresentam a firmeza de olhar que se espera de quem tem responsabilidades. E no entanto, olhamo-los e não os sentimos iguais a nós. É a pergunta que me faço ao vê-las.
Escolhi algumas fotos entre as que mais me impressionam para dar conta desta minha perplexidade.
Depois desta viagem, deixo a quem a fez, a liberdade de apreciar quantas das opções de moda destes personagens estão hoje integrados no visual original das nossas sociedades.
As fotos foram calibradas por mim, em alguns casos, a partir dos negativos digitalizados disponibilizados pela Bibliteca do Congresso Norte-Americano