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Regresso a Uma Antologia de Poesia Chinesa para vos trazer mais uma daquelas obras-primas em miniatura, capazes de dar na concisão do verso o essencial da vida, do tempo e do mundo. São as três fases da vida adulta: juventude, idade madura e velhice que por aqui passam na precisão destes quatorze versos.
Tomando como pano de fundo a constância e eternidade da chuva, vemos como a vida passou e o homem se transformou ouvindo a chuva indiferente.
É um poema de Jiang Jie (1245-1310).
“A Bela de Yu”
Quando era novo, ouvia a chuva
Acompanhado por bailarinas,
As velas tremulando, no vermelho
Das cortinas de cama.
Depois, ouvi-a nos barcos errantes,
Nos imensos rios, sob nuvens baixas,
No vento de Oeste – lá onde
Grita o ganso selvagem.
Ouço-a agora junto à cabana dos monges
Com prata nos cabelos
Tristeza, alegria, ausência, encontro –
Passam, indiferentes.
Que ela tombe – a chuva, sobre os degraus,
Gota a gota, a noite inteira, até ser dia.
Uma palavra é de justiça sobre a beleza da versão em português. Gil de Carvalho assina aqui mais uma tradução que passará a pertencer de direito própria ao património da poesia portuguesa.
Uma Antologia de Poesia Chinesa por Gil de Carvalho, foi publicado por Assírio & Alvim em 2010.