Lemos com as ferramentas de que dispomos: a nossa experiência e os nossos conhecimentos e cultura.
Para um leitor ocidental não familiarizado com a civilização chinesa, o encontro com a sua poesia clássica é quase sempre um choque. A simplicidade da linguagem aliada à profundidade da ideia transmitem-lhe uma irresistível atracção. Penetrar-lhe a historia e a dimensão filosófica, isso é trabalho de uma vida.
Chega ao blog a poesia chinesa clássica com um poema de Li Po (701-762) ou Li Bai ou ainda Li Pai consoante as edições, e também conhecido por Li T’ai-po, que segundo Arthur Cooper, tradutor para a Penguin de Li Po e Tu Fu, deve ser o mais conhecido de todos os poemas da literatura chinesa, e, sobretudo, entre os chineses da Diáspora. Diz ainda o tradutor, enfatizando esta sua opinião, que pode acontecer ao leitor ser surpreendido pela declamação do poema por um qualquer empregado de restaurante mais amistoso.
O poema faz parte da colecção de poesia clássica chinesa Ch’ien-chia-shih que literalmente significa Poemas de um Milhar de Mestres, apesar de conter poesias de cerca de 100 poetas e comummente traduzida por Poemas dos Mestres.
É um dos clássicos da literatura chinesa e durante oito séculos esta antologia da poesia dos períodos Tang (618-907) e Song (960-1279) fez parte da educação de qualquer estudante na China.
A versão que transcrevo de Pensamentos Nocturnos é a de Gil de Carvalho publicada em Uma Antologia de Poesia Chinesa por Assírio & Alvim em 2010.
PENSAMENTOS NOCTURNOS
Diante da cama
Brilha o luar
Que mais parece
Gelo no chão.
Se levanto a cabeça
Contemplo a Lua.
Ao baixá-la
Sonho com a terra natal.
Acrescento 3 versões em inglês, uma de Arthur Cooper, outra de David Hinton e uma terceira de Red Pine, todos eles conceituados tradutores de poesia clássica chinesa no mundo anglo-saxónico.
QUIET NIGHT THOUGHTS (versão de Arthur Cooper)
Before my bed
there is bright moonlight
So that it seems
like frost on the ground:
Lifting my head
I watch the bright moon,
Lowering my head
I dream that I’m home.
THOUGHTS IN NIGHT QUIET (versão de David Hinton)
Seeing moonlight here at my bed,
and thinking it’s frost on the ground,
I look up, gaze at the mountain moon,
then back, dreaming of my old home.
Deixei para o final a versão em inglês de que mais gosto, pois conseguindo traduzir o poema, simultaneamente escreve poesia de direito próprio em inglês, o que acontece para português com a leitura superlativa de Gil de Carvalho:
THOUGHTS ON A QUIET NIGHT (versão de Red Pine)
Before my bed the light is so bright
it looks like a layer of frost
lifting my head I gaze at the moon
lying back down I think of home
Se existirem leitores do blog que leiam chinês, encontram a seguir o poema em caracteres chineses, e se porventura quiserem tentar um outra versão em português, ela é bem-vinda.
Noticia sobre a vida de Li Po encontra-se na net com abundância, sendo certo que as divergências que possam surgir decorrem também do desconhecimento factual que subsiste sobre ela, existindo ainda controversia sobre a parte de realidade e a parte de fábula.
Noticia bibliográfica:
Uma Antologia de Poesia Chinesa – por Gil de Carvalho, edição Assírio & Alvim, 2010
LI PO and TU FU Poems – Selecção e tradução de Arthur Cooper, edição Penguin Classics, 1973
The Selected Poems of Li Po – Translated by David Hinton, edição ANVIL PRESS POETRY, 1998
Poems of the Masters – China’s Classic Anthology of T’ang and Sung Dynasty Verse – translated by RED PINE, edição Copper Canyon Press, 2003