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No suave caminhar deste ano de crise chega Junho e de repente o uniforme da paisagem da cidade enche-se de azul.
Numa surpresa encantada exclamamos:
– Floriram os jacarandás!
É a Sophia que vou buscar a emoção mais próxima deste encantamento primaveril:
Como um fruto que se mostra
Aberto pelo meio
A frescura do centro
Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro
e daqui outra manhã recordo:
Na manhã recta e branca do terraço
Em vão busquei meu pranto e minha sombra
*
O perfume do oregão habita rente ao muro
Conivente da seda e da serpente
*
No meio da praia o sol dá-me
Pupilas de água mãos de areia pura
*
A luz me liga ao mar como a meu rosto
Nem a linha das águas me divide
*
Mergulho até meu coração de gruta
Rouco de silencio e roxa treva
*
O promontório sagra a claridade
A luz deserta e limpa me reune
levando-me à infância, quando no Algarve havia amendoeiras.
Por final de Janeiro o inverno fazia uma pausa e subitamente as amendoeiras floriam. Eram extensões a perder de vista de encostas floridas em branco e rosa desafiando o azul do céu. Organizavam-se passeios de domingo para ir ver as amendoeiras em flor.
Esta comunhão com a beleza da natureza acompanha-me e
Mergulho no dia como em mar ou seda
Dia passado comigo e com a casa
Perpassa pelo ar um gesto de asa
Apesar de tanta dor e tanta perda
Pois é! A realidade não dá tréguas, A cidade dos outros / Bate à nossa porta ainda que um desejo de Oasis permaneça:
Penetramos no palmar
A água será clara o leite doce
O calor será leve o linho branco e fresco
O silencio estará nu – o canto
Da flauta será nítido no liso
Da penumbra
Lavaremos nossas mãos de desencontro e poeira
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Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
Ou deus
E por quinze dias a cidade ganha uma atmosfera de azul num efémero que faz os dias belos.