• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: William-Adolphe Bouguereau

Onde… António Ramos Rosa

21 Quarta-feira Maio 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

António Ramos Rosa, William-Adolphe Bouguereau

William-Adolphe_Bouguereau_(1825-1905)_-_Biblis_(1884)A750

É uma espécie de itinerário de busca…, de busca da mulher e do amor, o caminho que os poemas de António Ramos Rosa (1924-2013) a seguir transcritos, nos convidam a percorrer.

Os poemas têm, por um lado um aroma de enigma, do enigma das coisas intuídas, e acrescentam-lhe o sabor do ritmo que distingue a poesia de outras formas de dizer.

 

A mulher  A casa

 

A casa é viva

(A mulher dorme)

Dorme na espuma

nas cores puras

Dorme na espuma do silêncio

 

Planos brancos

e cores lisas

 

Dorme no vidro

tranquilo

 

Dorme viva

 

A casa é branca

É mais branca no silêncio

É mais branca entre as árvores

 

A própria cidade é branca

 

A cabra

cheirou a casa

cheirou o branco

 

O puro nó

do silêncio

 

Chego em silêncio

à mulher viva

dormindo

 

A casa é ela

em espiral

rodando

branca

 

É fino o ar

quase sem pó

Uma árvore dá

uma curta sombra

 

Uma brisa lava

a casa fresca

 

A varanda nua

é seca e branca

com sede de mar

 

A varanda é nua

A mulher é nua

 

Da casa branca

vê-se o mar

o fulvo dorso

da praia

nu

 

mulher de areia

deitada e panda

na frescura azul

 

Uma vela branca

de minúcia fresca

 

dá ao olhar a brisa

dá ao silêncio o mar

 

A mulher dorme

viva

na espuma

do silêncio

 

 

Onde o caminho

 

Onde o caminho é a mão que se abre,

a mão que vai.

O silêncio que respiro é o caminho que vem.

 

A mão nova palpa a parede do ar.

Uma parede nova.

 

Caminho para o solo alto.

Desloco a terra.

 

O fragor branco do céu.

 

O dia não estala.

 

Termino com o perfume de erotismo que o poema Onde é aqui exala.

 

 

Onde é aqui

 

Onde é aqui,

o centro,

onde se respira,

a cama limpa

o corpo inteiro e nu.

Onde é a fome e o braço toca

o esplendor.

Respira o ventre,

a vela incha

ao sol e ao mar sem fim.

 

Onde é aqui,

a fome nua,

a árvore exacta

no centro

da alegria,

a luz e o olhar

aberto ao mar.

Poemas transcritos de A Palavra do Lugar, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1977.

A imagem de abertura respeita a uma pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 1.770.114 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 858 outros seguidores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • Vasos Gregos
  • Eugénio de Andrade — Green god
  • Camões - reflexões poéticas sobre o desconcerto do mundo

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Site no WordPress.com.

Cancelar

 
A carregar comentários...
Comentário
    ×
    loading Cancelar
    O artigo não foi enviado - por favor verifique os seus endereços de email!
    A verificação do email falhou, tente de novamente
    Lamentamos, mas o seu site não pode partilhar artigos por email.
    <span>%d</span> bloggers like this: