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A mão que assinou o papel… — poema de Dylan Thomas

31 Terça-feira Maio 2016

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Dylan Thomas, John Lennon, Max Ernst

Ernst Max - Forma Humana 1931 350pxInfelizmente a guerra não desapareceu do nosso horizonte e é até presença quotidiana um pouco por todo o mundo. Reiterar que ela é apenas resultado da vontade dos homens e não qualquer castigo divino faz parte de uma propedêutica da vida que vale a pena prosseguir.

Os anos passam e o sonho de John Lennon (1940-1980) na sua canção Imagine continua por realizar:

 

…

Imagine all the people / Imagina toda a gente

Living life in peace / Vivendo a vida em paz

 

You may say I’m a dreamer / Podes dizer que sou sonhador

But I’m not the only one / Mas não sou apenas eu

…

 

O poema de Dylan Thomas (1914-1953) que hoje transcrevo — A mão que assinou o papel… — coloca a questão suprema do poder — o poder de decidir da guerra e da paz — de forma exemplar, ao tornar explícito que esse poder é um acto humano de consequências inumanas porque devastadoras:

…

A poderosa mão conduz a um ombro descaído;

sofrem de caimbras as junturas dos dedos engessados.

…

A mão que assinou o tratado engendrou febre,

e aumentou a fome, e vieram gafanhotos:

…

 

E com a beleza que dói e a poesia consegue, termina:

…

Há mãos que regem a piedade, outras o céu:

só não há que vertam lágrimas.

 

ou no original:

A hand rules pity as a hand rules heaven;

Hands have no tears to flow.

 

Eis o poema em tradução de David Mourão-Ferreira:

 

A mão que assinou o papel destruiu uma cidade;

cinco soberanos dedos tributaram a respiração,

de mortos duplicaram o mundo, a meio cortaram um país

estes cinco Reis provocaram a morte de um rei.

 

A poderosa mão conduz a um ombro descaído;

sofrem de caimbras as junturas dos dedos engessados.

Uma pena de pato pôs fim ao morticínio

que tinha posto fim às negociações.

 

A mão que assinou o tratado engendrou febre,

e aumentou a fome, e vieram gafanhotos:

grande é a mão que sobre todos impera

com o gatafunho de um nome.

 

Os cinco reis contam os mortos, mas não acalmam

a crosta das f’ridas nem a fronte afagam.

Há mãos que regem a piedade, outras o céu:

só não há que vertam lágrimas.

 

in Vozes da Poesia Europeia III, Colóquio Letras nº165, Set-Dez 2003.

Abrem e fecham o artigo imagens de duas pinturas de Max Ernst (1891-1976), respectivamente: Forma Humana de 1931 a abrir e Sinal para Uma Escola de Monstros de 1968 a fechar.

Ernst Max - Sinal para uma escola de monstros 1968 500px

 

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