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Perdida! — um poema de Camilo Castelo-Branco

27 Quinta-feira Abr 2017

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Camilo Castelo-Branco, Edgar Degas

A vida faz-se muito de desencontros, momentos falhados, ou fugazes olhares de felicidade entrevista. Afinal, o sonho a escapar-se no bulício dos dias.
Uma dessas perdas conta-a Camilo Castelo-Branco (1825-1895) no poema Perdida! escrito em 1850. Nele encontramos a flor, metáfora da mulher e sua beleza, no registo caro aos poetas ultra-românticos que Camilo, nos seus inícios de escritor também foi.
Neste poema estamos nos antípodas das imagens de flores e sentimentalidade trabalhadas pela mesma época por Maria Browne (1797-1861), e que no artigo anterior mostrei.
Será contemporâneo destes poemas o encontro (com laivos de paixão?) ocorrido entre Camilo e Maria Browne que levou ao duelo do escritor com o filho desta, e que relatos da época referem com motivações obscuras, sendo esse relacionamento insinuado.
Registado o pormenor biográfico, passemos ao poema onde o poeta faz gala da sua fogosidade viril e do imparável desejo de descobrir que assalta a juventude de todas as épocas ( Camilo tinha 25 anos), aqui registado na irrefreável cavalgada para o desconhecido, mais empolgante que a permanência na envolvente que se conhece.

 

 

Perdida!

 

Veloz, qual flecha impelida
O meu cavalo corria…
Eu tinha a febre da raiva,
Abrasava-me a agonia,
E o cavalo generoso
O meu ódio concebia.

Os precipícios transpunha
Sem as rédeas sofrear!
Longe, ao longe eu ansiava
Este horizonte alargar;
Procurava mundos novos,
Faltava-me ali o ar.

E, de relance, deviso
Linda flor em ermo Val,
Mal aberta, e aljofrada
Pelo orvalho matinal,
Reacendendo solitária
Seu perfume virginal.

Nenhum homem lhe tocara,
Nem talvez a vira ali!
Tive orgulho de encontrá-la,
Que outra mais bela não vi.
Mas o ímpeto indomável
Do cavalo não venci.

E perdi-a! Não me lembro
Onde vi tão linda flor!
Sei que lá me fica a alma
Como um feudo pago à dor.
Outros lábios viral dar-lhe
Férvido beijo d’amor.

1850

 

in Ao Anoitecer da Vida, livro de poemas publicado pela primeira vez em 1873.

 

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Edgar Degas (1834-1917), O Jokey.

 

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