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Tag Archives: Adalberto Alves

Saudade é ter presença e afastamento — poema de Ibn ‘Arabî

09 Quarta-feira Out 2013

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga, Poetas e Poemas

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Adalberto Alves, Ibn 'Arabî

Gyarmathy_Tihamer-Two_Continents 1952sentir que cada encontro é uma fome.

A voracidade do amor é isto. E que bem o diz Ibn ‘Arabî (1165-1240) o poeta andaluz de quem hoje vos trago dois poemas escritos naquela linguagem sábia e condensada que dá conta de verdades insofismáveis.

 *

na ausência a saudade me consome

mas também não me sacia o achamento

saudade é ter presença e afastamento

sentir que cada encontro é uma fome.

 

paixão é ter remédio e, todavia

é ter visão de nós que em nós desce

não se pode fugir, a ânsia cresce

vizinha de uma mística harmonia.

 

No poema que segue, através de uma surpreendente parábola, conta-nos o poeta de uma evidência raramente apreendida: amado e amada só o são verdadeiramente quando se sentem apenas um.

 **

um dia um amoroso veio bater

à porta da sua bem-amada

e ela, lá de dentro, veio dizer:

quem é? deu ele em responder:

sou eu, minha adorada!

 

disse ela, de seguida, já irada:

os dois não cabemos nesta casa!

 

no deserto ele foi arder a sua brasa

meditando até de madrugada.

 

voltou à porta dela, e bateu

e, uma vez mais, a voz se ouviu:

quem é? és tu! ele respondeu.

e logo aquela porta então se abriu.

As versões são do nosso arabista e poeta Adalberto Alves, e constam do seu livro de poemas, No Vértice da Noite, belíssima edição Argusnauta (editor Luís Gomes), com ilustrações de Figueiredo Sobral, Lisboa, 2007.

E deste livro escolho para terminar, agora de Adalberto Alves, como se à noite o mar…

 

como se à noite o mar…

numa estranha rota iluminada

deixasse livre o sonho esvoaçar:

os rostos que se foram, em parada,

em silêncio nos vêm visitar.

 

sob chuva distante e torturada

que na nossa tristeza deixa os sais,

rostos amados na sua desfilada,

vão-nos dizendo devagar: jamais!

 

como se à noite o mar…

 

me forçasse a perguntar, oh mágoa,

nesta fria margem de ilusão

porque correm os dias como água,

se não passam nem nunca passarão?

 

silente carícia de uma ignota mão

que marcas nas faces o signo da lua

abre-me a alma, fecha-me a razão

dá-me aquela Presença que é só Tua.

 

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