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Memling - As 7 alegrias da Virgem BVou ao encontro da transcendência do tempo de Natal, tempo em que simbolicamente podemos voltar a nascer, com um poema de Ruy Cinatti (1915-1986) onde, de par com a alegria, se convoca o que de harmonia pode ter o mundo: o amor, Deus e a sua presença benfazeja, a música e a dança, e a inocência de ser outra vez criança; tudo numa forma poética superior que procura devolver a esperança no viver.

 

Poema

 

Alegria —

Ó minha vida! —

Permaneçe,

Sê ainda amor.

 

Lá no alto

Onde prossegues,

Guia-me…

Sê ainda a chuva benfazeja

Que refresca

A desolada aridez do meu caminho.

 

Estrela

Ou música descendo!

Se eu te fugir

Harpeja só de leve a noite escura

Que eu regressarei,

Contente e mudo

Como se nunca me tivessem exilado.

 

Criança!

Eis-me de novo

Dançando

Uma canção que alguém me está cantando

E eu já esqueci…

— Divina se ia erguendo a prece alada.

 

Alegria —

Ó minha vida! —

Mais profunda do que a julga a agonia

Do homem que padece,

Não sejas a morte,

Sê ainda amor!

 

Ruy Cinatti (1915-), in Nós não Somos Deste Mundo, 2ªed. 1960.