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Neste Verão temperado onde os dias de calor tórrido parecem apenas ser memória, aquece-me um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen (1914-2004), Meio-Dia:
MEIO-DIA
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o ar imenso solitário antigo
Parece bater palmas.
in Poesia, 1ª ed 1944
Depois de variada turbação, de que também a escrita para o blog se tem ressentido, cheguei finalmente ao mar, e ao que podem hoje ser férias de Verão; e eis-me no Atlântico:
ATLÂNTICO
Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.
in Poesia, 1ª ed 1944
Para quem tem o mar como segunda pele, é inexcedível o prazer de percorrer a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen onde a presença do mar mostra como é possível dar um sentido sempre novo à existência:
MAR
I
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
II
Cheiro a terra as árvores e o vento
Que a Primavera enche de perfumes
Mas neles só quero e só procuro
A selvagem exaltação das ondas
Subindo para os astros como um grito puro.
in Poesia, 1ª ed 1944
Depois desta curta escolha, resta ao leitor a quem o cheiro a maresia chama, percorrer o itinerário do mar na poesia de Sophia. Por mais distante que dele esteja, senti-lo-á sempre por perto.
Beleza de poesia e de fotografia! Obrigada pela partilha.
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Obrigado pela apreciação e até breve.
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