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Trago hoje com algum detalhe este A Melancolia nos Jardins da Vida imaginado e pintado por Matthias Gerung (1500-1570).
Instalada ao centro da pintura, a melancolia, jovem mulher alada com seio à vista, contempla com um perplexo rosto encostado à mão, o fervilhante cosmos espalhado pela terra conhecida.
Vemos um quadro de vidas serenas onde cada um ocupa sem dramas o seu lugar no mundo, de servos a nobres, de eclesiásticos a homens de armas. Também há mulheres, e os prazeres mostram-se sem pudor. Há jogos e divertimentos de tempo livre, uma batalha resolve-se no diálogo de comandantes, a agricultura e a subsistência são acauteladas nas exigências das suas fainas, e o demiurgo em arquitecto deste universo, em baixo, olha curioso como toda esta gente se desembaraça da vida que tem.
Quadro de vida profana num tempo em que o objectivo do viver deveria ser o procurar a santificação para assegurar a vida eterna no paraíso, é afinal um sem-fim de prazeres que se dão a ver. Daí a melancolia com que é olhado.
O que sobretudo me encanta na pintura, para lá da beleza cromática e plástica da composição, é a ausência de condenação moral na fruição dos prazeres da vida.
Admirável reflexão pintada, dela acrescento mais alguns pormenores.