Preencho o blog como se de um jardim aberto ao mundo se tratasse. E hoje vou colher, para  aqui plantar, no jardim de poesia erótica do Siglo de Oro.

Publicou José Bento em 1997, na Assírio & Alvim, com o título Jardim de Poesias Eróticas do Siglo de Oro, uma escolha pessoal de 51 poesias retiradas dos 144 poemas reunidos em Poesía erótica del siglo de Oro.

Dá o poeta e tradutor, na Nota Introdutória, as razões da escolha de que cito: Não tem este meu jardim outro objectivo que não seja recrear-me, ao ler e traduzir estes versos, e procurar recrear outros que porventura os apreciem, estando por mim excluído qualquer intuito erudito, de que não sou capaz.

Subscrevo integralmente o propósito no que ao conteúdo do blog se refere, agradeço penhorado ao poeta ter-nos dado o prazer de todo o seu labor de tradutor, tantas vezes genial, e entre as poesias que maior gozo me deram neste livro escolho a que traz na edição o nº 45

Beija-me, minha alma, doce espelho e guia,

beija-me, acaba, dá-me este contento,

e cada beijo teu engendre um cento,

sem que cesse jamais esta porfia.

 

Beija-me cem mil vezes cada dia,

pra que, chocando alento com alento,

saiam deste int’rior contentamento

doce suavidade e harmonia.

 

Ai, boca, venturoso o que te toca!

Ai, lábios, ditoso é o que vos beija!

Acaba, vida, dá-me este contento,

 

dá-me já tal gosto com tua boca.

Beija-me, vida: tudo em mim lateja.

Aperta, morde, chupa, mas com tento.

Dispenso-me de clarificar o que beija a boca pois a chave de ouro que conclui o soneto é perfeitamente elucidativa.