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Uns por distracção, outros por descuido, alguns por opção, há gente que mantém a poesia fora da vida. Não sabem o que perdem.
É para esses que a poesia é lembrada em dia certo de calendário, o que acontece hoje. Para os outros, aqueles a quem a poesia embrulha a vida, será uma efeméride um pouco sem sentido: escolher apenas um dia por ano celebrar a poesia…
Façamos o gosto ao mundo dando conta de como a poesia é universal e comum ao género humano, com dois poema dos Índios da Amazónia mudados para português por Herberto Hélder.
Beijo
Beijei-te a palma da mão,
tinha o cheiro a melão-de-água.
Beijei-te a palma da mão,
e os rins ficaram-me em fogo.
Lamento amoroso
Não quero mulher que tenha
muito delgadas as pernas,
Como venenosas serpes,
de medo que elas me apertem.
Não quero mulher que tenha
muito comprido o cabelo,
um molho de ervas espesso
onde acaso eu me perca.
Quando sem vida me veres,
sobre o meu corpo não chores:
deixa que a águia ao ver-me
seja a única que me chore.
Quando sem vida me veres,
deita-me à floresta negra:
o tatu há-de vir ver
a cova onde meter-me.
Poemas publicados em Poemas Ameríndios, poemas mudados para português por Herberto Helder, Assírio & Alvim, Lisboa, 1997.
O jovem representado a abrir esta celebração anual, foi desenhado por anónimo quando da Viagem Filisófica ao Amazonas efectuada por Alexandre Rodrigues Ferreira em 1783-1792, e seria o que lhe chamaram Gentio Caripúna vivendo nas cachoeiras de cima do Rio da Madeira. Não tenho dificuldade em imaginar que partilharia os sentimentos expressos nos poemas transcritos, e vindos daquelas regiões.
A poesia e a alma da ternura e a alma do amor
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